Dragões - 202009

(PepeLegal) #1

54


Nasceu no Centro,


mas sente-se um
nortenho, “um
jogador à Porto”.

Diogo Branquinho


integra um plantel
que, embora não viva
a leste da pandemia,
já encara com
naturalidade estes

tempos de exceção.


O melhor marcador


do grupo de Magnus


Andersson na última


época mantém o


campeonato e a Taça


de Portugal como as


coordenadas da rota


azul e branca, não
deixando, contudo,
de apontar a bússola
portista para a

Europa do andebol,


onde o Dragão Arena


quer ser um ponto de
referência. Amante
do mar e sempre

orientado para a


família, o ponta oeste
do FC Porto também

vê no horizonte


o sucesso com a


seleção portuguesa
e fora do campo
recusa desviar para
sul a conclusão
dos estudos.

ENTREVISTA de RUI AZEVEDO

ANDEBOL


“ESTAMOS MOTIVADOS


PARA RECUPERAR


O CAMPEONATO


QUE NOS TIRARAM”


DIOGO BRANQUINHO 55


REVISTA DRAGÕES SETEMBRO 2020

A


pandemia pôs fim a
uma temporada em
que o FC Porto estava
pujante, tanto a nível
nacional como além-fronteiras.
O grupo já está, entretanto,
concentrado nos novos desafios.
Como foi feita a transição este
ano, considerando as atuais
circunstâncias tão incomuns?
Estávamos, de facto, a fazer uma
época muito boa, à semelhança
da anterior e talvez a pudéssemos
ter concluído ainda melhor.
Tínhamos finalizado a fase regular
do campeonato em primeiro lugar,
também estávamos na Taça e na
Liga dos Campeões poderíamos
ter escrito uma história que em
Portugal ainda ninguém escreveu,
embora o ABC já tenha chegado
a uma final desta competição
noutro formato. Tínhamos uma
excelente oportunidade, porque
o Aalborg estava bastante ao
nosso alcance, até podíamos
assumir o favoritismo. A seguir
íamos defrontar o Kiel, que é um
tubarão do andebol mundial, mas
os dois encontros que tínhamos
disputado contra eles tinham sido
muito equilibrados, com uma
vitória tangencial nossa na casa
deles e outra deles na nossa casa, e
poderíamos ter chegado à final four.
Tivemos também muita pena que
não tivessem reconhecido o nosso
trabalho internamente, até porque
jogámos em casa e fora com todas
as equipas e ficámos em primeiro
lugar no campeonato, além de não
termos sofrido qualquer derrota.
Isso revoltou-nos naturalmente,
mas esta época ainda estamos
mais motivados para recuperar o
campeonato que nos tiraram.

O plantel já aprendeu a lidar
com a nova realidade?
Não é uma questão desportiva, é
uma questão de sociedade. Toda

a gente teve de se adaptar e nós
também já o fizemos. Já estamos
habituados ao regime de usar
máscara nos espaços fechados
antes e depois do treino, aos testes e
ao distanciamento social. Até temos
dois balneários, estamos sempre
divididos. O FC Porto tem todas as
condições para proteger a saúde
dos atletas e para introduzir público
de forma segura no pavilhão, já a
partir do início do campeonato,
o que será importantíssimo
na nossa caminhada.

Que avaliação faz do
rendimento da equipa neste
arranque de época?
Está a correr bem, estamos a
trabalhar muito duro e o plantel é
muito forte. Temos dois jogadores
muito capazes por cada posição
e nalguns casos mais do que dois.
Nem todos os resultados dos
jogos particulares foram bons,
mas é nos momentos decisivos
que nós nos afirmamos. Esta
preparação serve para ganharmos
entrosamento e retirarmos
lições para o futuro. Estamos
fortes física e animicamente.

A conquista do campeonato
voltará a ser o principal objetivo?
No FC Porto os objetivos são
muito fáceis de gerir. No início
de cada época, o melhor elogio
que nos podem fazer é dar-nos a
responsabilidade de ganhar todos
os jogos e consequentemente todas
as competições. O objetivo principal
é ser campeão nacional, como
em todos os anos, assegurando
a vaga da Liga dos Campeões,
depois queremos ganhar a Taça de
Portugal, repetindo a dobradinha
de 2018/19. E eu diria mesmo que se
ganharmos seremos tricampeões,
apesar de não nos terem concedido
no papel o título da última época.
Na Liga dos Campeões, a partir de

uma certa fase não há favoritos e por
isso encaramos a competição por
etapas, queremos para já ultrapassar
o grupo difícil em que estamos e
depois é eliminatória a eliminatória,
apontando sempre para a final four.

Se o FC Porto vencer o
campeonato esta época somará
o 22.º troféu na principal
competição nacional, o que seria
um recorde. Isto dá-vos ainda
mais motivação nesta frente?
Sabemos que estamos a representar
um clube histórico que apresenta
a mesma identidade em todas
as modalidades. Aliás, não é ao
acaso que o FC Porto vai buscar
jogadores, nem os da casa nem os
que vêm de fora, todos eles têm
certas características. É aquilo a que

se chama um jogador à Porto. Não
há melhor elogio do que ir na rua
e dizerem-me que sou um jogador
à Porto. No Norte não se quer ficar
atrás em nada e, se só falta um
para sermos a equipa com mais
títulos no campeonato português,
vamos atrás desse recorde. Temos
jogadores para consegui-lo e temos
um projeto de futuro, assente em
jogadores jovens e outros mais
experientes. É um projeto a longo
prazo e, portanto, se não batermos
esse recorde agora vamos batê-lo
largamente nos anos futuros.

Considerando a solidez
que demonstraram na Liga
dos Campeões ao longo da
última campanha, a fasquia

está agora mais elevada em
termos internacionais?
O ponto de viragem na mentalidade
aconteceu na eliminatória contra
o Magdeburgo, na época 2018/19.
A partir daí percebemos que não
éramos bons, mas muito bons, dos
melhores do mundo. Ganhámos
uma confiança enorme, passámos
a acreditar que podíamos ganhar
a qualquer equipa do mundo e
fizemos uma grande EHF. A Liga dos
Campeões este ano só foi surpresa
para quem não tinha acompanhado
o nosso percurso. Sabíamos que
íamos fazer tombar alguns tubarões,
embora fosse difícil ganhar a prova.
A fasquia está altíssima e fomos
nós que a colocámos lá. Agora
temos de passar por cima dela.

Os dois primeiros jogos europeus
são contra o Elverum e o Meshkov
Brest, equipas das quais não se
espera tanto como do Flensburg,
PSG, Vardar ou Kielce. É por
isso especialmente importante
ter um começo afirmativo?
Gosto de pensar que os chamados
favoritos também olham para nós
como uma equipa poderosa e que
exige todas as cautelas. E de certeza
que isso acontece. Temos de olhar
é para nós próprios e já provámos
que conseguimos ganhar a essas
equipas. Já ganhámos ao Vardar e
ao Kielce na época passada, por
exemplo, e certamente vão ser
excelentes jogos. Agora, claro que
é importante vencer esses dois
primeiros encontros para consolidar

“No Norte não se quer ficar atrás


em nada e, se só falta um para


sermos a equipa com mais


títulos no campeonato português,


vamos atrás desse recorde.”

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