Dragões - 202009

(PepeLegal) #1

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Com alguns treinos nas pernas e com a
competição cada vez mais próxima, Reinaldo
García sente-se finalmente em paz. A paragem
forçada devido à pandemia já lá vai e o que
importa é o que está em jogo nesta temporada.
Foi ao ritmo de um discurso vencedor que o
capitão da equipa de hóquei patins falou à
DRAGÕES, numa conversa em que abordou
uma “bonita caminhada” repartida em duas
fases, os reforços para esta temporada e a vida
fora das pistas. Houve risos, confissões e uma
certeza: “A espinha da Liga Europeia continua
atravessada na garganta. Está na altura de tirá-la.”

ENTREVISTA de SÉRGIO VELHOTE

JÁ GANHOU TUDO


E AINDA QUER MAIS


R


einaldo García já é
experiente nestas
entrevistas à DRAGÕES.
Foram muitas ao longo
das 11 temporadas que já disputou
de azul e branco. Esta, no entanto,
acaba por ser diferente. O mundo
está diferente, o hóquei também
e o capitão portista sente isso. A
concentração será a mesma e a
fome de vencer continuará a ser um
empurrão extra para toda a equipa.
A diferença principal estará no som.
Vai ouvir-se ainda mais os patins a
chiar na pista e os sticks a embater
na bola e nas tabelas, porque não
haverá adeptos nas bancadas, pelo
menos na fase inicial da temporada.
“Iremos jogar para ganhar, para ter
mais um golo marcado do que o
adversário”. Essa é a mentalidade

que Reinaldo García sempre teve
e que continuará a ter, mesmo
com as restrições que a pandemia
impôs na modalidade. “Sentimos
imensamente o apoio dos adeptos
em todos os jogos e fazemos tudo
por eles no rinque, mas teremos de
nos adaptar o mais rapidamente
possível, porque não podemos
deixar que isso afete o nosso
trabalho e os nossos objetivos”,
reforçou.
O FC Porto regressa aos pavilhões
no final de setembro, depois da
paragem forçada de todas as
competições em março, altura
em que os portistas estavam em
crescimento. “No campeonato,
não estávamos no lugar em que
queríamos estar, mas em termos
técnicos e táticos estávamos na

HÓQUEI EM PATINS REINALDO GARCÍA 59


REVISTA DRAGÕES SETEMBRO 2020

“O facto de muitas pessoas terem ficado desempregadas


devido à pandemia permitiu-me ter um novo olhar sobre


o que temos no momento e o que podemos perder num


instante. Passei a valorizar ainda mais o que faço no


FC Porto e todas as pessoas que trabalham neste clube.”


nossa melhor forma. Já tínhamos
o foco na fase final e parar a
competição naquela altura foi um
corte radical”, contou o capitão,
sempre com o foco no futuro da
equipa, que já regressou aos treinos
no Dragão Arena: “Esta situação
trouxe uma maior motivação para
voltar na máxima força para a pré-
temporada. Essa vontade de sentir
a pista, a bola, os patins... foi muito
tempo sem sentir essas coisas,
fazem parte da minha vida”.
Uma vida que acabou por sofrer
algumas mudanças nos meses em
que foi forçado a estar em casa.
Desde já na competitividade, porque
a vida de Reinaldo García sempre
teve competição desde tenra idade.
O internacional argentino já venceu
tudo que podia conquistar e nesta
paragem teve tempo para pensar
em vários temas, tanto dentro como
fora das pistas. Algo se destacou:
“O facto de muitas pessoas terem
ficado desempregadas devido à
pandemia permitiu-me ter um
novo olhar sobre o que temos no
momento e o que podemos perder
num instante. Passei a valorizar
ainda mais o que faço no FC Porto
e todas as pessoas que trabalham
neste clube”. Além disso, Nalo,
como também é conhecido, teve
a oportunidade de passar mais
tempo com a família, um dos
poucos fatores positivos desta fase.
“Temos bastante tempo ocupado,
os treinos e os jogos acabam por
tomar conta da semana toda. Por
vezes só tinha a tarde de domingo
para passar tempo com eles, o que
acaba por ser pouco tempo. Tivemos
a oportunidade de fazer coisas que
não costumamos fazer e deu para
conviver e aprender”, admitiu.

FUTURO AMBICIOSO
A carreira de Reinaldo García é
repleta de títulos, tanto no FC Porto
como em Espanha, ao serviço do

Liceo e do Barcelona, bem como na
seleção argentina. São 39 no total,
19 dos quais conquistados de azul
e branco. Mesmo assim, Nalo não se
contenta, porque a ambição não lhe
permite. O que importa é o que está
por conquistar e o capitão portista
não esconde que há uma espinha
que se mantém “atravessada na
garganta” desde que regressou ao
FC Porto, em 2015.
A Liga Europeia continua a ser
um dos objetivos e um sonho
para Reinaldo, que já conquistou
três, mas nenhuma de azul e
branco. “Já estivemos em várias
finais e sabemos que são muitas
as condicionantes para as vencer.
Se falarmos do Barcelona, que é a
equipa que mais vezes venceu a
competição, pode dizer-se que é
fácil ganhá-la, mas não é”. Para o
defesa/médio, a “consistência” é o
fator essencial para se alcançar a
final, mas, uma vez aí, tudo muda.

“Uma final requer uma exigência
física e mental muito elevada. Não
podes cometer qualquer erro,
porque uma falha pode fazer a
diferença”. Depois de tantas finais
conquistadas, o avançado sente
que, este ano, o desfecho pode ser
diferente: “Com a experiência que
temos tido, sinto que a equipa já
tem essa mentalidade intrínseca e
acredito que temos condições para
a vencer. O clube e todos os adeptos
merecem”.
Para isso acontecer, Guillem
Cabestany tem às suas ordens dois

reforços capazes de ajudar a equipa
desde o primeiro minuto, opinião
partilhada pelo capitão. “Já tive a
possibilidade de jogar com os dois.
Partilhei o balneário com o Xavi
Barroso no Barcelona e joguei na
seleção com o Ezequiel Mena. São
dois reforços que tornam a nossa
equipa ainda mais competitiva e vão
ajudar-nos a cumprir os objetivos”,
reforça, antes de descrever cada
um deles em poucas palavras: “O
Barroso é um jogador mais defensivo,
com boa distância, e um bom
organizador de jogo. Sem dúvida que

TODOS A BORDO
A volta ao mundo não seria em 80 dias,
mas num cruzeiro. É este o sonho de
Reinaldo García fora do rinque, conhecer
culturas e países diferentes, pelo menos
se “tivesse muito dinheiro e tempo”
para o fazer. “É enriquecedor saber
como as outras pessoas vivem e com
o que vivem”, admitiu, reconhecendo,
mais adiante, que a cidade do Porto
ainda o surpreende: “Ainda fico
impressionado quando passo na Ponte
Luís I e vejo a cidade. É lindíssima”.
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