Dragões - 202009

(PepeLegal) #1
Jorge Nuno Pinto da Costa

N


o momento em que está
prestes a arrancar uma nova
temporada, os sentimentos não
podiam ser mais contraditórios.
O entusiasmo pelo regresso é grande,
como sempre, mais ainda por ostentarmos
orgulhosamente os títulos de campeão
nacional e vencedor da Taça de Portugal.
A vontade de voltar a entrar em campo e
construir novos triunfos não podia ser maior.
Mas também não é possível esconder a
desilusão pela aberração que continua a ser
a ausência de público nas bancadas, uma
decisão que prejudica todos: os adeptos, os
jogadores, os clubes, o país no seu conjunto.
Enquanto no futebol, no andebol, no
basquetebol, no hóquei em patins e no
voleibol os eventos têm de ser realizados à
porta fechada, assistimos todos os dias nos
telejornais a imagens que só nos podem
espantar. As praças de touros do Sul de
Portugal estão quase cheias. Os concertos
de música e espetáculos de comédia têm

plateias preenchidas. Também não falta
gente às iniciativas políticas dos partidos
e a grandes cerimónias religiosas. E,
descontando o caso das torturas de animais,
não é necessariamente mau que assim
seja. Pelo contrário. É possível, como já se
demonstrou, retomar alguma normalidade
em atividades que implicam ajuntamentos,
desde que sejam definidas regras claras,
que a esmagadora maioria da população
cumpre com zelo. Também pode ser assim
no futebol e noutras modalidades, como se
tem visto em França e noutros países.
Infelizmente, no que toca ao desporto,
as nossas autoridades padecem de dois
grandes problemas: são ignorantes e
oportunistas. Ignorantes porque não
sabem reconhecer a importância social e
económica de atividades que envolvem
milhões de pessoas, como espectadores
e como praticantes, que pagam muitos
milhões de euros em impostos e que
contribuem para o prestígio do país. E são

O FUTEBOL ASFIXIADO


oportunistas porque há certos momentos
em que nunca faltam. Seja nas finais da
Taça, nos jogos da seleção ou nas alturas
em que se assinala algum feito relevante de
um desportista português, lá estão sempre
os políticos prontos para aparecer e para
se colarem ao sucesso que a maior parte
das vezes não ajudaram a construir. Nos
momentos difíceis, quando em causa pode
estar a sobrevivência de centenas de clubes
e a continuidade da prática desportiva por
milhares de pessoas, fazem de conta que
não é nada com eles e só agravam a asfixia
que podiam mitigar. Caminham para ficar
na história como os carrascos do desporto
nacional.
Free download pdf