REVISTA 8 - MARÇO

(MARINA MARINO) #1

Opesoeahistóriadetodasas
mulheres que antes vieram e
história fizeram. Deram origem a
tantas vidas. O ventre da mulher,
nascedouro de histórias infinitas.
MarliWalkerdescreveasmarcasda
ancestralidadenaalma:


“meusossosminerais
carregamváriasmulheres
sinto-astodas
(antigaseconstantes)
sobreacolunacervical
...
sãotantasmulheres
Emmeusossospaleolíticos”
(trecho do poema “Primitiva”,
p. 14 )


Na condição de mulher “que
nãomorreráengasgadacompedaço
de osso/atravessado na glote”, a
poeta usa o verbo e todo seu
repertório para cantar e denunciar
as noites intermináveis que
encobrem esse mundo, antes e
agora,queviveporumfiodoabismo
“umbral de pedra abocanhando o
mundo.”


“(...) entre um sinal e outro
articulo


Overbo

Conforme os tempos (e
modos)
Reforçoaarmadura”
(trecho do poema “Verbo”,
p. 30 )
O espanto, a capacidade de
empatia permeia toda a obra,
chamandoaatençãodoleitorquenão
se deve acostumar com o que não é
belo, com o que não é sonho e não
devefazerpartedavida.Nãofazparte
da paisagem. É preciso denunciar. O
nó da garganta deve ser grito. As
indignações são postas pra fora,seja
em qual âmbito da existência, seja
individualoucoletiva.Oespantoestá
ali, seja diante da galinha morta
expostasobreamesaparaojantarou
diante de um amor “estrangulado”
sobre a mesa dacozinha. Diante do
apocalipseoudoespectrodabesta.
Marli Walker versa estrelas,
taças de vinho, romances, amores -
bemservidosounão,canções,auroras
e poentes, beijose maçãs. E tempos
inglórios de arrepios na espinha.
Amplolequedeescolhas,retalhosque
compõemagrandecolchaquecobreo
ocre de terra, o acre azinhavrado
gosto de mundo que sofre com o
espectrocinzadoumbral.

Valedesvendaressejardim!

Free download pdf