Clipping Banco Central (2021-03-06)

(Antfer) #1

FERNANDO REINACH- Coronavírus verde-amarelo


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Metrópole
sábado, 6 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Clique aqui para abrir a imagem

Autor: FERNANDO REINACH


Em 2020 o Brasil foi invadido pelo Sars-CoV-2.
Juntamente com o resto do planeta, batalhamos contra
um único inimigo, o Sars-CoV-2 original. Em 2021 as
coisas mudaram, o Brasil está enfrentando a própria
variante do coronavírus, o Sars-CoV-2-P1, ou P.1, que
surgiu em Manaus e já é responsável por mais da
metade dos casos na maioria dos Estados.


Isso significa que agora o Brasil enfrenta uma variante
específica do País, verde-amarela, gerada e
selecionada aqui. Mas não estamos sozinhos: a
Inglaterra também está enfrentando uma variante que
surgiu por lá (inglesa ou de Kent), com propriedades
diferentes das do vírus original. Em 2021 vamos ser
força- dos a trilhar o mesmo caminho, descobrindo
como melhor combater a P.1.


O fato de possuirmos a própria variante tem
consequências importantes. Antes, todas as
informações, tratamentos e vacinas descobertas em
qualquer lugar do mundo se aplicavam ao Brasil. Se na
China o Sars-CoV-2 levava 20% dos infectados ao


hospital e causava a morte de 0,5 a 1%, isso
provavelmente valia para o Brasil. Se na Itália
descobriram que a mortalidade aumentava com a idade
e era maior em homens, isso valia para o Brasil.

Agora isso mudou. A P.1 não deve ser radicalmente
diferente do Sars-CoV-2 original, mas muitas de suas
características podem ser distintas e exigir providências
diferentes. Exemplos: a P.1 se espalha mais
rapidamente e com maior facilidade; será que o nível de
isolamento usado em 2020 bastará para controlá-la? Os
hospitais reportam a presença de mais jovens nas UTIs;
será que isso se deve ao comportamento dessas
pessoas ou a uma propriedade da P.1? As perguntas
iniciais precisarão ser respondidas novamente.

O mais difícil nessa tarefa é que as investigações terão
de ser feitas por cientistas brasileiros e seus
colaboradores internacionais. Uma coisa é certa: em
2021 os países terão como prioridade investigar as
variantes de seus territórios.

Os cientistas brasileiros já começaram a caracterizar a
P.1. Os dados de um dos primeiros trabalhos são
preocupantes. Os cientistas mediram a capacidade de
neutralização dos anticorpos produzidos por uma
infecção pelo SarsCoV-2 e os produzidos pela vacina
Coronavac frente ao vírus original e a va- riante P.1. O
soro de 18 pessoas que se recuperaram de casos
moderados de covid causados pela linhagem original e
o de 8 pessoas vacinadas com a Coronavac foi usado
no estudo.

No primeiro experimento foi medida a capacidade dos
anticorpos das 18 pessoas que se recuperaram de inibir
a penetração do Sars-CoV-2 original e da variante P.
em células humanas. O resultado foi o esperado. O soro
dos curados tem uma capacidade alta de inibir a
entrada do vírus original, mas essa capacidade é 75%
menor quando a variante P.1 é usada. Isso significa que
os infectados pelo vírus original devem possuir uma
capacidade reduzida de combater a P.1 e podem ter
nova infecção.
Free download pdf