ADRIANA FERNANDES - Botão de guerra
Banco Central do Brasil
O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
sábado, 6 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Na briga insana contra as medidas de isolamento social
para frear a pandemia, Jair Bolsonaro repete a toda
hora que a economia e a saúde "andam juntas". No seu
governo, essas duas áreas, porém, não se conversam.
Não se tem notícia de nenhuma reunião de cúpula dos
Ministérios da Economia e da Saúde - Paulo Guedes e
Eduardo Pazuello - para a organização de uma
estratégia conjunta, a não ser por repasse de dinheiro.
Nenhum encontro sequer dos "generais" de Bolsonaro
num gabinete de guerra, de crise.
Saúde e Economia caminham em passos distintos
enquanto o cenário mais catastrófico do início do ano se
confirmou: a disseminação do colapso do sistema de
saúde de Manaus para o resto do País. Tudo ao mesmo
tempo.
Vírus avançando, com famílias inteiras contraindo a
doença, UTIs lotadas, retrocesso na retomada
econômica, alta volatilidade dos mercados e
desconfiança dos investidores em relação ao que vai
acontecer com o Brasil. A paciência deles com o País
indo embora.
É a tempestade perfeita, que ocorre quando um evento
ruim é drasticamente agravado pela ocorrência de uma
rara combinação de circunstâncias que se transforma
em um desastre sem proporções.
É bem verdade que vão dizer no governo que a coluna
está equivocada. Que em março do ano passado foi
criado um comitê de crise para a supervisão e
monitoramento dos impactos da covid-19. Que o comitê
já publicou uma série de resoluções com ações para o
enfrentamento e está em pleno funcionamento. Que o
comitê está atuando conjuntamente e tem uma lista de
medidas para provar isso. Que está dando tudo certo e
dentro do previsto.
Oficialmente, o discurso é o de que Guedes e Pazuello
mantêm diálogos constantes e frequentes em relação às
medidas para o enfrentamento da pandemia no Brasil, o
que não traria a necessidade de encontros presenciais.
Quem viu essa tropa em ação reunida? O Ministério da
Economia diz que faz a sua parte com o repasse de
dinheiro e o Ministério da Saúde faz a dele cobrando os
recursos que estão em falta.
No domingo passado, Bolsonaro postou nas suas redes
sociais uma foto enfileirado ao lado dos presidentes
Arthur Lira (Câmara), Rodrigo Pacheco (Senado), e os
ministros Walter Braga Neto (Casa Civil), Luiz Eduardo
Ramos (Secretaria de Governo), Guedes e Pazuello. O
assunto oficial: vacina e a PEC do auxílio emergencial.
O tema de maior interesse foi outro: mostrar que
Bolsonaro fez a sua parte repassando recursos para os
Estados no ano passado. Tudo isso para desmontar o
aperto nas restrições que estão sendo tomadas pelos
governadores e prefeitos e que a disponibilidade de
caixa dos Estados e municípios fechou 2020 em
patamar 70% maior do que um ano antes.
Isso demonstra que ter mais dinheiro não basta. A prova
disso é que o governo já pagou R$ 524 bilhões em