Clipping Banco Central (2021-03-06)

(Antfer) #1

JOÃO GABRIEL; DE LIMA - Cabe ao eleitor encontrar o culpado


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Política
sábado, 6 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - IPCA

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De quem é a culpa por nossas tragédias simultâneas - a
da pandemia e a da economia? Na semana passada, o
presidente Jair Bolsonaro acusou os governadores de
mau uso de repasses federais. Os governadores
responderam em entrevistas, nas redes sociais e até
num manifesto - afirmando que Bolsonaro mente.
Segundo eles, o presidente, além de falsear números,
atrapalha o combate à pandemia ao ignorar a ciência.
"Será que os principais países do mundo, que adotaram
o distanciamento e a vacinação como estratégia de
combate ao vírus, estão errados - e o Brasil, com 260
mil vidas ceifadas, está certo?", perguntou no Twitter o
governador gaúcho Eduardo Leite.


As duas tragédias se expressam em números
eloquentes. Na quarta-feira, o Brasil contabilizou 74 mil
novos casos de infecções pelo coronavírus, assumindo
a triste liderança nessa estatística, à frente dos Estados
Unidos. No mesmo dia soube-se que a economia
encolheu 4,1% em 2020. Segundo cálculos de Claudio
Considera, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas e
personagem do minipodcast da semana, a retração tira
o Brasil do "top ten" da economia. Éramos o sétimo do
mundo depois do ciclo social-democrata de Fernando


Henrique e Lula. Com Dilma, caímos para o nono lugar.
Sob Bolsonaro, passamos para décimo segundo. De
quem é a culpa?

Não importa se a crise é mundial. Os números doem na
vida do eleitor. O Brasil hoje tem 32 milhões de
desempregados, maior contingente dos últimos dez
anos. E a inflação vem voltando aos poucos - o arroz
subiu 74,1% e a carne, 22,8%, de acordo com dados do
IPCA. O brasileiro está com medo de sair à rua e de
perder o emprego, e falta dinheiro para comprar comida.
De quem é a culpa?

O jogo de empurra-empurra para livrar-se dela remete a
um debate em curso na ciência política: o da
responsabilização. Nas democracias, os cidadãos usam
o voto para recompensar ou punir os governantes.
Avalia-se principalmente o desempenho econômico -
aquilo que sentimos no bolso. Mas o que acontece
quando a responsabilidade é difusa?

Pesquisas recentes mostraram que, durante a crise do
euro, parte dos cidadãos da União Europeia relevou a
responsabilidade de seus governantes, culpando os
burocratas de Bruxelas. Em países
semipresidencialistas, como França e Portugal, o crédito
pelos sucessos e insucessos costuma se dividir entre
Executivo e Legislativo.

Em regimes presidencialistas, no entanto, o eleitor não
costuma ter dúvidas. Estudos feitos nos Estados Unidos
mostram que o presidente costuma ser responsabilizado
pelo desempenho econômico, para o bem ou para o
mal. No Brasil, é só olhar para o passado recente.
Fernando Henrique e Lula foram recompensados com
reeleições em períodos de crescimento. Collor e Dilma,
que presidiram crises graves, enfrentaram ruas cheias e
sofreram impeachments.

Para Claudio Considera, o Brasil teria mais chance de
voltar a crescer se adotasse as duas condutas-padrão
no combate à pandemia: fechamento rigoroso por
tempo limitado e vacinação em massa. Bolsonaro já
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