Insulto adicionado à injúria
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O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
sábado, 6 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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A cidade de São Paulo sofreu ontem com dois protestos
de caminhoneiros, que bloquearam vias e infernizaram
a vida dos paulistanos, já bastante estressados pelos
efeitos terríveis da pandemia de covid-19.
O maior bloqueio ocorreu por cinco horas, pela manhã,
a partir da Rodovia Castelo Branco, com reflexos na
Marginal do Tietê, no sentido da Rodovia Ayrton Senna.
O outro foi na zona sul, na região de Interlagos. O caos
no trânsito obrigou a Prefeitura a suspender o rodízio de
veículos. Nos dois casos, o motivo do protesto foram as
medidas anunciadas pelo governo do Estado para
enfrentar o recrudescimento da pandemia e tentar evitar
o colapso do sistema de saúde.
A esta altura, é difícil saber qual é exatamente a pauta
de reivindicações dos caminhoneiros, a não ser levar a
desordem ao País - situação na qual prosperam os
demagogos como Jair Bolsonaro, que chegou à
Presidência com o apoio de muitos desses
transportadores.
Há poucos dias, os caminhoneiros haviam ameaçado
parar o Brasil, como fizeram em 2018, se o presidente
Bolsonaro não providenciasse logo a redução do preço
do diesel. Fiel à sua base, Bolsonaro interveio
agressivamente na Petrobrás, trocando o comando da
estatal e causando imenso prejuízo à empresa e à
imagem que os investidores têm do País, para obrigá-la
a reduzir os preços na marra. No front fiscal, Bolsonaro
ignorou a necessidade de aumentar a arrecadação para
fazer frente à pandemia e para reequilibrar as contas
nacionais e mandou isentar o diesel de impostos
federais.
Certamente gratos pelo empenho de seu "mito" - ainda
que os preços do diesel não tenham caído, pois
dependem de muitos outros fatores alheios à vontade
do presidente -, os caminhoneiros resolveram retribuir-
lhe o mimo causando problemas ao principal adversário
de Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria.
Depois de estacionarem seus caminhões para
atravancar o trânsito, alguns caminhoneiros desceram
da boleia para estender faixas onde se lia "Fora Doria,
abre São Paulo já". Esse era o verdadeiro espírito da
manifestação - a pandemia foi apenas um pretexto.
Se a preocupação dos caminhoneiros fosse mesmo
com os efeitos econômicos das novas medidas de
restrição anunciadas pelo governo paulista, o protesto
deveria ter servido para cobrar do governo federal a
compra e a entrega urgente de vacinas contra a covid-
19 - única maneira de mitigar a crise. Mas os
caminhoneiros resolveram não causar esse tipo de
constrangimento ao presidente da República - que hoje
atua mais como um vereador dedicado a defender
exclusivamente os interesses particulares de seus
eleitores, em especial os transportadores.
A volta do Estado à fase vermelha, a mais dura, do
Plano São Paulo - estratégia de restrições de
movimento e de funcionamento de negócios para o
combate à pandemia - era uma consequência lógica do
aumento significativo de casos e de mortes pela covid-
- Os hospitais de várias cidades paulistas, inclusive a
capital, estão no limite. Não cabe escolha entre salvar