Clipping Banco Central (2021-03-06)

(Antfer) #1

Aprendiz de Chávez


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
sábado, 6 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Juros

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Paulo Guedes é ministro da Economia, mas se dá
melhor como comentarista de economia. Como se não
estivesse há mais de dois anos à frente do
"superministério" que tudo resolveria, e como se o
presidente Jair Bolsonaro, que lhe deu o emprego, lhe
fosse um desconhecido, Paulo Guedes vive a
expressar críticas à condução e ao estado da economia
nacional.


Em seus mais recentes comentários, o ministro Guedes
alertou que, se o Brasil não seguir seus conselhos,
caminhará celeremente para se tornar "uma
Venezuela". Numa entrevista ao podcast PrimoCast, ao
condenar a possibilidade da adoção de um programa de
auxílio emergencial sem uma contrapartida fiscal, Paulo
Guedes declarou que seria uma forma de "empurrar o
custo para outras gerações". E enumerou os problemas:
"Juros começam a subir, acaba o crescimento
econômico, endividamento em bola de neve, confiança
de investidores desaparece. É o caminho da miséria, da
Venezuela, da Argentina".


O ministro estaria coberto de razão, não fosse o fato de
ele mesmo integrar, e na ribalta, o governo ao qual cabe


articular politicamente a solução que evitaria tão
pavoroso desfecho. A não ser, como está cada vez mais
claro, que Paulo Guedes seja apenas um ministro
honorário, a quem o presidente consulta de vez em
quando só para manter as aparências, e não o
superpoderoso herói liberal que Bolsonaro vendeu ao
mercado na campanha eleitoral de 2018.

O Brasil de Bolsonaro está mais próximo da Venezuela
chavista do que o ministro Guedes gostaria de admitir.
O presidente, que já expressou sua admiração pelo
falecido caudilho Hugo Chávez, segue a cartilha do
ditador venezuelano ao militarizar seu governo, ao
aparelhar os órgãos de controle e fiscalização, ao tentar
inocular no Judiciário a toxina bolsonarista, ao capturar
parte do Congresso e ao se afundar no populismo
explícito - intrometendo-se na formação de preços,
obrigando estatais a trabalhar em favor de seus
interesses eleitorais e jogando a população contra
governadores e instituições que considera seus
inimigos.

Guardadas as proporções, o assalto bolsonarista à
Petrobrás é movido pelo mesmo espírito que levou o
ditador Chávez a avançar sobre a PDVSA, a poderosa
estatal do petróleo venezuelano. Bolsonaro, como
Chávez, quer transformar a Petrobrás, maior empresa
do Brasil, em esteio de sua demagogia.

Consta que o ministro da Economia não gostou nem um
pouco da intervenção de seu chefe na Petrobrás, por
razões óbvias, traduzidas pelo mau humor das bolsas,
pela fuga de investimentos e pela desconfiança
generalizada nos compromissos de Bolsonaro com o
livre mercado. A desmoralização explícita de Paulo
Guedes e de sua agenda liberal por parte do presidente
deveria bastar para que o ministro afinal se desse conta
da "venezuelização" do governo e pedisse as contas.
Isso ainda não aconteceu, mas Paulo Guedes não
escondeu seu desconforto.

Questionado sobre o assunto, numa entrevista à Jovem
Pan, o ministro contorceu-se para tentar explicar as
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