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O Estado de S. Paulo/Nacional - Espaço Aberto
sábado, 6 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
do "trabalho de campo", o mais demente dos dementes
que chegaram ao poder com a revolução. A ideia
passou a ser aniquilar toda a população daquela região.
Gracchus Babeuf, autor da primeira narrativa
circunstanciada dos fatos, deu-lhe o expressivo título de
A guerra na Vendeia e o sistema de despopulação.
Stalin provavelmente não conhecia os detalhes do que
ocorrera na França, mas levou a cabo com intensidade
ainda maior o projeto de "matar por inanição", vale
dizer, de fome, como forma sistemática de terror,
imposto à Ucrânia no inverno de 1932-33. Confisco
geral de todos os alimentos, levando à morte pelo
menos 3 milhões de indivíduos, muitos deles até a
prática do canibalismo. Em ucraniano, o termo
Homolodor significa exatamente isso, matar por
inanição, e é o título de um magnífico filme ucraniano
disponível no YouTube. Mas, como sabemos, a
insanidade sempre pode aumentar.
A partir de 1942, trens lotados de judeus, ciganos e
outras etnias começaram a ser descarregados na
estação de Birkenau, na Polônia. Os passageiros (se
assim os podemos chamar) passavam por uma triagem,
sendo os mais fortes mandados para o trabalho forçado
e os fracos, doentes, bem como as mulheres e crianças,
para as câmaras de gás e os fornos crematórios. O
saldo é bem conhecido: o Holocausto, no qual
pereceram cerca de 6 milhões de judeus.
Carreguei bastante nas tintas para sublinhar o que
afirmei no início: Bolsonaro é, se tanto, uma partícula
minúscula na história dos genocídios. Dá-se, entretanto,
que os conceitos precisam ser repensados à medida
que as instituições humanas e a História avançam.
No século 18, bastava um salto para se passar de A a
Z: de uma relativa normalidade para o terror. No século
21, com o País afundando numa pandemia terrível, um
presidente que entretém seus convidados do almoço
com gracejos e ataca a imprensa no preciso momento
em que ela cumpre o seu dever, informando que
chegamos aos 260 mil mortos, por certo não chegou ao
Z, mas já saiu do A. Quando coloca seu interesse
eleitoral a léguas do interesse público, deu mais alguns
passos. Sinais de insanidade já está dando - e não são
poucos.
Bolsonaro não tem estatura para isso.
Sinais de insanidade já dá - e não são poucos
Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas