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O vírus do machismo


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Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
sábado, 6 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Tabata Amaral


Carla, de apenas 12 anos, precisou cuidar dos irmãos
quando as aulas foram suspensas. No entanto, não
demorou para que sua mãe, que é diarista, fosse
dispensada e as duas tivessem que ir para o sinal
vender chicletes.


Os planos de lua de mel de Alice viraram pó com o
início da pandemia. Por ser técnica de enfermagem,
suas férias foram suspensas. Rapidamente, sua vida
virou um pesadelo: de dia, as UTIs lotadas; de noite, as
agressões do marido.


Faltava pouco para que Karina concluísse o doutorado,
mas, com três filhos pequenos tendo aulas online, ela
se viu forçada a deixar sua pesquisa de lado. Seu
companheiro, no entanto, publicou cinco artigos e
recebeu uma promoção.


Os dados sobre o impacto da pandemia na vida das
mulheres mostram que essas histórias estão longe de
serem fictícias.


No Brasil, 11,5 milhões de mães solos têm uma jornada
tripla, com o trabalho e o cuidado dos filhos e da casa.
Segundo o Instituto Locomotiva, 57% delas vivem
abaixo da linha da pobreza. O mesmo instituto apontou
que, com a crise, 45% dos 6,5 milhões de trabalhadoras
domésticas do país foram dispensadas sem pagamento.

Assim como o desemprego, a violência doméstica
também aumentou. Segundo o Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos, em abril de 2020 o
número de denúncias recebidas pelo canal 180 foi
quase 40% maior do que no mesmo mês de 2019. Mais
uma vez, mulheres negras são as mais afetadas.

Pesquisas mostraram ainda que a produção científica
feminina caiu abruptamente com a pandemia, o que não
se verificou com os homens.

O Dia Internacional da Mulher é um dia de celebração
das nossas conquistas, mas também de reafirmação da
nossa luta pela igualdade. Essa luta é não só um dos
pilares do meu mandato como um propósito de vida. No
Congresso, trabalho para aprovarmos a reserva de
vagas para mulheres no Legislativo, assim como
medidas de enfrentamento à pobreza menstruai e à
desigualdade no mercado de trabalho.

Além disso, no último ano, foquei meus esforços na
mitigação dos efeitos da pandemia sobre as mulheres.
Ao lado de outros parlamentares e de representantes da
sociedade civil, trabalhei para que mães solos tivessem
direito ao dobro do valor no auxílio emergencial. Sou
coautora da lei 14.022/2020, que criou medidas de
combate à violência contra a mulher na pandemia, e fui
relatora do PL 123/2020, aprovado na Câmara, que
garante recursos para esse enfrentamento.

A esperança é saber que não luto sozinha. Homens e
mulheres batalham, todos os dias e a seu modo, para
que ser mulher já não represente um fardo tão pesado.
Só assim nossas meninas poderão sonhar sem limites.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
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