'Se fizermos muita besteira, dólar vai a R$ 5', disse Guedes há um ano;
hoje, moeda vale R$ 5,68
Banco Central do Brasil
Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
sábado, 6 de março de 2021
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Autor: Júlia Moura
são paulo Há um ano, cerca de uma semana após a
confirmação do novo coronavírus no Brasil, o ministro
Paulo Guedes (Economia) dizia que o dólar poderia ir a
R$ 5 caso fosse feita "muita besteira".
Naquele dia, a moeda americana subiu 1,6%, a R$
4,653, após o Banco Central fazer três leilões de
contratos de swap cambial - venda de dólares no
mercado futuro - para conter a desvalorização do real.
"Pode chegar a R$ 5? Ué, se o presidente pedir para
sair, se todo o mundo pedir para sair. É um câmbio que
flutua, se fizer muita besteira, ele pode ir para esse
nível", afirmou Guedes em 5 de março de 2020.
A desvalorização, porém, continuou - sete pregões
depois, a moeda americana fechou acima de R$ 5 pela
primeira vez, devido ao avanço do coronavírus pelo
mundo.
Nesta sexta-feira (5), o dólar terminou o pregão em alta
de 0,38%, cotado a R$ 5,6820, um salto de 22% em
relação à mesma data do ano passado.
De lá para cá, a moeda se aproximou dos R$ 6, indo até
R$ 5,90, seu recorde nominal (sem contar a inflação).
Segundo analistas, as principais razões para a alta no
câmbio são o risco fiscal e os juros baixos.
"Não é um movimento exclusivo do real, é dos
emergentes, mas a nossa moeda está mais
desvalorizada que os pares pela questão fiscal", diz
João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos.
Investidores temem o aumento de gastos de governo
durante a pandemia, sem contrapartidas, o que eleva a
relação dívida-PIB. Diante do endividamento do governo
e da queda na atividade, o risco país medido pelo CDS
de cinco anos subiu 53% desde março passado, para
197 pontos.
O CDS funciona como um termômetro informal da
confiança dos investidores em relação às economias
dos países, especialmente emergentes. Se o indicador
sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro
financeiro do país; se ele cai, o recado é o inverso.
A alta nos novos casos de Covid-19 no Brasil, que
levaram diversos estados, como São Paulo e Minas
Gerais, a ampliar as medidas restritivas, também
impacta o real. Outro fator negativo para a divisa são as
recentes interferências do presidente Jair Bolsonaro em
estatais.
Desde a crítica de Bolsonaro ao atual presidente da
Petrobras, Roberto Castello Branco, em uma live na
noite do dia 18 de fevereiro, o dólar acumula alta de
4,4%. Em relação aos principais pares globais, a moeda
americana se valorizou apenas 1,5% no período,
segundo a Bloomberg.