Clipping Banco Central (2021-03-06)

(Antfer) #1

Restrições decretadas por Paes são necessárias, mas ainda tímidas


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
sábado, 6 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Demorou, mas o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM),
decidiu adotar medidas de restrição para tentar frear a
transmissão avassaladora do novo coronavírus e de
suas terríveis variantes. A segunda maior cidade do
país é uma das últimas a fazê-lo. Pelo decreto de Paes,
desde ontem vigora uma espécie de toque de recolher
das 23h às 5h em todos os bairros (a circulação não
está proibida, apenas a permanência nas ruas);
restaurantes e bares só poderíam funcionar das 6h às
17h, mas uma liminar da Justiça ontem permitiu a
abertura até as 20h; quiosques da orla, boates e casas
de shows ficarão fechados; o comércio de modo geral
só poderá abrir das 6h às 20h, com 40% da capacidade.
As restrições valem até o dia 11 e não se aplicam a
atividades essenciais como serviços de saúde,
farmácias, postos de gasolina, transportes e entregas
em domicílio.


Sem dúvida, são medidas necessárias, porém ainda
tímidas, considerando o colapso iminente das redes
pública e privada de saúde no momento mais crítico da
pandemia. O decreto mantém as praias liberadas,
diferentemente do que ocorre noutras cidades, como
Salvador - difícil imaginar que o vírus não goste de


praia. O toque de recolher também é menos rigoroso do
que o pedido pelo Conselho Nacional de Secretários de
Saúde (Conass) em carta abertaànação ( das 20hàs
6h).

A questão do transporte é outro ponto nevrálgico que
passou em branco. Diariamente somos apresentados
acenas inconcebíveis de aglomeração nos BRTs. É
verdade que o sistema vem funcionando mal há tempos.
A prefeitura já anunciou que retomará a concessão para
nova licitação. Mas, ao menos no curto prazo, não se
deve imaginar que os ônibus esvaziarão. Trata-se de
problema crônico, que deve ser enfrentado. De nada
adiantam decretos hipócritas, como os do governo
Marcelo Crivella, determinando que ônibus só poderíam
transportar dois passageiros em pé por metro quadrado.
A determinação foi esmagada pela realidade.

E lamentável que mesmo essas medidas tímidas sejam
boicotadas pelo governador Cláudio Castro, aliado do
presidente Jair Bolsonaro, avesso a máscaras,
distanciamento e lockdowns. Na quinta-feira, ao
inaugurar um restaurante popular em Caxias, Castro
provocou uma aglomeração e desdenhou as medidas
de restrição. "Os dados mostram que no estado, pelo
menos, não há essa necessidade." Não se sabe a que
dados Castro se refere. Os da Fiocruz mostram que o
Rio é um dos seis estados onde as variantes mais
transmissíveis do Sars-CoV-2 se esbaldam. Não é difícil
imaginar os próximos capítulos da trama.

Não é por acaso que o Rio - cenário de escandalosa
roubalheira na Saúde e de incontáveis equívocos no
combate à pandemia - registra hoje a maior taxa de
mortalidade da Federação. Pode ser que a situação não
se compare à de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e
Paraná. Mas o vírus não respeita fronteiras. O caos
antes restrito a Manaus se disseminou pelo país todo.
Não há por que pensar que o Rio será poupado. É
preciso agir enquanto é tempo.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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