Clipping Banco Central (2021-03-07)

(Antfer) #1

RENATA CAFARDO- A escola como um direito


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Metrópole
domingo, 7 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: RENATA CAFARDO


A história foi longa e difícil. Meses de medo de que a
escola propagasse o novo vírus. Mas tentativas
corajosas de retorno em países onde a educação é
prioridade e a pandemia estava mais controlada
passaram a ser estudadas. Isso quando, por aqui, os
bares já podiam funcionar. As primeiras pesquisas, e
depois muitas outras, deram resultados animadores. A
escola não era um local de grande transmissão da covid
e as crianças também não eram vetores importantes.


Fez-se o consenso e mais países abriram suas redes de
ensino. Víamos crianças com mochilas nas cos- tas pelo
mundo e as nossas, diante de computadores - ou pior,
pelas ruas, com fome, em casa, sem escola. Pediatras
então se uniram aos educadores no grito pela volta.
Mães e pais lançaram movimentos pela abertura. Foi
fortalecida, enfim, a escola como um direito, em meio à
pandemia.


Depois de um recorde mundial de mais de 260 dias
fechadas, poucas redes no Brasil começaram a reabrir.
E houve sucesso. Pais de escolas particulares que


antes eram contra o retorno passaram a enviar seus
filhos e a comemorar. A despeito da grita dos sindicatos,
o movimento ia chegando também às públicas, que se
adaptavam à nova realidade. Foi bonito ver a
construção de uma maior consciência de que o
ambiente escolar é insubstituível na vida da criança.

Com um decreto dizendo que as escolas poderiam ficar
abertas na fase vermelha, a mais restritiva, a sensação
era de que teríamos um ano letivo minimamente normal
em 2021. Mas havia a variante do vírus, o ano-novo, o
carnaval e as pessoas fazendo tudo o que não é
essencial. Ainda, a negligência absurda com a compra
de vacinas.

A iminência do colapso voltou. Com ela veio na semana
passada o secretário estadual de Saúde de São Paulo,
Jean Gorinchteyn. Em entrevista, disse que "sem
dúvida" a educação deveria fechar neste momento.
Escolas e pais acordaram do breve sonho. Do alívio de
ver as crianças aprendendo onde devem aprender,
convivendo com quem devem conviver. Mais uma vez
entraram em um mar de informações e espera
angustiante.

Dois dias depois, o governador João Doria anunciou a
fase vermelha. E escolas abertas. O secretário da
Educação, Rossieli Soares, explicou que elas
atenderiam "quem mais precisa". Citou os vulneráveis
socialmente ou por questões de aprendizagem, os que
não têm como se conectar em casa ou com a saúde
mental abalada - são muitos. Falou da prioridade às
crianças de 4 e 5 anos e das que estão em
alfabetização. Rossieli é um dos grandes defensores do
País em abrir as escolas, mas disse: se puder fazer
ensino a distância, faça nessas duas semanas.

A decisão sobre se a educação é essencial ou não
recaiu sobre as famílias. Pais passaram a se questionar
se seus filhos, de fato, precisam. Tiveram de se dividir
entre o desenvolvimento de uma criança e o
espalhamento do vírus.
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