Clipping Banco Central (2021-03-07)

(Antfer) #1

MÍRIAM LEITÃO - Velhos temores que nos rondam


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Economia
domingo, 7 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Selic

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Autor: MÍRIAM LEITÃO


A inflação ronda a economia. O temor até dentro do
governo é que ela não caia depois de chegar a 7% em
junho. Bolsonaro piora tudo. Ele produz incerteza, isso
pressiona o dólar que, num círculo vicioso, atinge os
preços. A inflação de alimentos fechou em 11% no ano
passado e alguns produtos industriais estão em falta,
como papelão e aço. Há outros fantasmas. A dívida é
alta e ficará mais cara. Os juros futuros e o risco-país
aumentaram e a Selic terá que subir. A equipe finge
acreditar que há ajuste fiscal na PEC aprovada no
Senado. Ela nada economiza a curto prazo, cria mais
rigidez, fragiliza a Receita Federal e propõe a médio
prazo o que não conseguirá fazer.


Bolsonaro é a crueldade ostentação. O "vai chorar até
quando?" ou o "vai comprar vacina na casa da mãe"
foram lançados no rosto de um país que enterra quase
dois mil mortos por dia. Ele gostaria de desviar a
atenção posta sobre a mansão do filho. O mundo vê,
registra e quer distância de nós. Esta semana, dois
grandes jornais, um americano e um britânico, fizeram
editoriais dizendo que somos fator de risco sanitário


global.

Na economia, há uma mistura pesada. Recessão,
inflação, desemprego e piora fiscal. A alta dos juros
começará ao longo do primeiro semestre apesar da
atividade fraca. O mercado financeiro comemorou a
aprovação da PEC Emergencial porque acha que ela
evitou o pior. O Bolsa Família fora do teto abriria mais
espaço no orçamento para despesas populistas. O
ganho foi, portanto, evitar o bode voador que apareceu
na última hora. No resto, o ajuste é um saco vazio. Ele
proíbe o proibido. O salário do servidor civil já não seria
reajustado este ano, portanto esse ponto da PEC é
inócuo. Ela permite a alta dos salários dos militares e
ainda carimbou despesas das Forças Armadas. Ao fim,
a emenda engessou mais o orçamento. A única
desvinculação afeta a Receita Federal, o órgão que
arrecada, combate a sonegação e a lavagem de
dinheiro.

O faz de conta fiscal levou o governo a uma situação
ridícula. Ele terá que decretar estado de calamidade
para acionar os gatilhos, porém os gatilhos nada
acionam. O governo precisa gastar mais por causa da
pandemia, mas não consegue formular boas políticas de
ajuste.

A parte da PEC que trata da redução de subsídios é
inexequível. Felipe Salto, da IFI, mostra que ao blindar a
Zona Franca de Manaus, o Simples, os fundos
constitucionais e as entidades filantrópicas ficou inviável
a proposta de reduzir as renúncias fiscais a 2% do PIB.

Teria que zerar toda a dedução do Imposto de Renda
Pessoa Física, todos os subsídios agrícolas, acabar
com a lei de incentivos para a cultura, suspender
estímulos à ciência e inovação tecnológica. Salões de
beleza caros da Zona Sul do Rio são optantes do
Simples, mas o governo ameaça tomar o dinheiro do
Microempreendedor Individual (MEI).

Reduzir subsídios é necessário, mas trabalhoso. Exige
olhar dentro desses gastos, para separar o justo do
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