Clipping Banco Central (2021-03-07)

(Antfer) #1

Não faz sentido decretar lockdown em todo o país


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
domingo, 7 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Clique aqui para abrir a imagem

O bloqueio ou fechamento de todas as atividades
econômicas, conhecido em inglês como ''lockdown'',
vem sendo definido como solução para a explosão de
casos de Covid-19 no Brasil. Cientistas de renome têm
falado num lockdown nacional como única resposta
razoável para a escalada de mortes provocadas pelo
novo coronavírus. Não se trata, contudo, de decisão
simples nem óbvia.


Não há como contestar a eficácia do lockdown e das
medidas de restrição de contatos para deter a
transmissão do vírus. Estudos do início da pandemia,
quando diversos países implementaram quarentenas
rigorosas, vem sendo defendido coavaliaram que elas
haviam evitado de todas as atividades econômicas,
conhecido em inglês como "lockdown", 140 milhões de
infecções até junho e salvado pelo menos 3 milhões de
vidas até maio. Quanto mais cedo houvesse sido
implementado o lockdown, mais vidas eram salvas.


Do ponto de vista científico, portanto, não há dúvida de
que um lockdown nacional de algumas semanas teria
um efeito dramático no contágio. Foi o que aconteceu
no Reino Unido. O bloqueio total decretado em 4 de


janeiro resultou em queda brusca nas mortes que
vinham subindo. Em Portugal, a quarentena rígida
adotada no final de janeiro fez as mortes despencarem
de 303 para 42, na média de sete dias. Na Nova
Zelândia, bastou um único caso de transmissão
comunitária para Auckland entrar em lockdown por sete
dias no final de fevereiro.

O mero fato de adotar uma medida drástica como o
lockdown nacional poderia ser pedagógico para a
parcela da população brasileira que parece ignorar os
mortos que se empilham, estimulada pelo próprio
presidente Jair Bolsonaro. Mas é preciso agir com
sabedoria. Não apenas porque uma quarentena dessa
envergadura traria um custo econômico inevitável no
curto prazo. Mas porque as condições locais da
pandemia não são idênticas num país de dimensões
continentais como o Brasil - e um lockdown nacional só
faria sentido se fossem.

Com exceções pontuais, nenhuma cidade brasileira
chegou a implantar um bloqueio para valer. Nossas
quarentenas sempre foram brandas, fato verificável nos
indicadores que medem a circulação. Se houvesse uma
medida de caráter nacional, seriam inevitáveis protestos
dos setores afetados (a revolta dos caminhoneiros em
São Paulo parece apenas um aperitivo). É, por fim,
difícil acreditar que uma medida dessas seria exequível
sem envolvimento do governo federal, do Exército e das
forças de segurança, boa parte delas aliadas ao
negacionismo irresponsável de Bolsonaro.

O que deveria existir são diretrizes nacionais
coordenadas pelo governo federal, com indicadores
(como leitos de UTI, casos e mortes) acompanhados de
modo rigoroso e disciplinado. Nessas diretrizes, não se
devem descartar medidas extremas como o lockdown.
Mas o mais sensato é adotá-las em caráter local. Os
próprios secretários estaduais de Saúde, na carta
aberta exigindo mais restrições, recomendam
lockdowns só nas regiões em que a situação estiver
crítica.
Free download pdf