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BERNARDO MELLO FRANCO - A profecia de Dom Bosco


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
domingo, 7 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Na noite de 30 de agosto de 1883, o sonhou que fazia
uma viagem pela América do Sul. Entre os paralelos 15
e 20, ele vislumbrou uma "enseada bastante longa e
larga, que partia padre italiano Giovanni Bosco de um
ponto onde se formava um lago". Uma voz divina
assoprava em seu ouvido: "Quando vierem a escavar as
minas escondidas no meio destes montes, aparecerá a
terra prometida, de onde jorrará leite e mel. Será uma
riqueza inconcebível".


Dom Bosco morreu em 1888, virou santo em 1934 e
inspirou os fundadores de Brasília em 1960. A cidade foi
erguida entre as coordenadas geográficas do sonho e à
beira de um lago artificial, o Paranoá. O sacerdote se
tornou onipresente no Planalto Central: batiza igreja,
colégio, farmácia e pizzaria. Agora seu santo nome
também está associado aos negócios da família
presidencial.


Flávio Bolsonaro virou morador do Setor de Mansões
Dom Bosco, uma das áreas mais valorizadas da capital.
O senador comprou uma casa de 1.100 m2 de área
construída, com quatro suítes, oito vagas de garagem,
piso de mármore e piscina aquecida. Com salário


líquido de R$ 24 mil, ele arrematou o imóvel por R$ 6
milhões.

A mansão é o mais novo símbolo do enriquecimento
dos Bolsonaro na política. Quando disputou sua
primeira eleição, em 2002, o primeiro-filho declarava
como único bem um Gol 1.0. Cinco mandatos depois,
ele pilota um Volvo XC e acaba de adquirir seu 202
imóvel em 16 anos.

A casa também simboliza a sonhou com uma crença da
família na impunidade. Em novembro, o Ministério
Público do Rio denunciou o senador por peculato,
lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ele
fechou o negócio dois meses depois, às vésperas de o
Superior Tribunal de Justiça julgar seus recursos contra
a investigação.

Seguindo a tradição da família, a transação está
encoberta por mistérios. O Zero Um registrou a compra
do imóvel na cidade-satélite de Brazlândia, a 58
quilômetros da mansão. O cartório atropelou a Lei de
Registro Público e tarjou a escritura pública para ocultar
seus dados patrimoniais. O Banco de Brasília (BRB),
ligado ao governo do Distrito Federal, financiou parte da
operação com juros abaixo do mercado.

Irritado com a descoberta da mansão, Flávio atacou a
imprensa e negou irregularidades. Ele disse ter
comprado o imóvel com o valor da venda de um
apartamento e de uma franquia da Kopenhagen,
apontada pelo MP como fachada para lavar dinheiro.
"Tá tudo redondinho, dentro da lei e sem problema
nenhum", afirmou, em vídeo divulgado nas redes
sociais.

Eleito com a promessa de combater a corrupção, o
presidente ainda não falou sobre a casa milionária. Há
poucos dias, ele abandonou uma entrevista para não
responder sobre as manobras do herdeiro no STJ.

Depois de 138 anos, os Bolsonaro dão novo significado
à profecia de Dom Bosco. Ao se instalar entre os
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