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Banco Central do Brasil
Correio Braziliense/Nacional - Economia
domingo, 7 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Produto Interno Bruto
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Autor: Antonio [email protected]
A retração da economia em 2020, expressa pela queda
de 4,1% do PIB (Produto Interno Bruto), tem várias
facetas. De todas elas, a mais relevante é que, mesmo
sem pandemia, o desempenho do PIB tendia a ser
medíocre em 2020, como foi em todos os anos desde a
recessão de 2015 e 2016. Superado o ambiente de
apreensão, graças ao aumento do ritmo da vacinação, o
crescimento voltará capengante, mas voltará.
Que crescimento? Nada impressionante nem virtuoso,
já que o melhor cenário projeta avanço do PIB de 3,5%
este ano, o que não cobre nem as perdas no ano
passado. Além disso, teria de crescer 5% só para a
renda per capita de cada brasileiro voltar ao nível de
- O PIB per capita regrediu 4,8% em 2020, e a
população cresceu 0,77%.
Essas duas variáveis explicam o nosso deficit social,
mitigado por programas de transferência de renda como
o Bolsa Família, que os ideólogos libertários do governo
Bolsonaro gostariam de podar.
O auxílio emergencial criado para prover renda aos
informais, mas, sobretudo, permitir-lhes ficar em casa
nos momentos de fechamento da atividade comercial, é
mais um quebra-galho de uma economia que
desaprendeu o caminho do crescimento e não gera
empregos em número suficiente para permitir a
autonomia fundamental do trabalhador.
A economia cresce abaixo da dinâmica demográfica
(que governantes responsáveis elegem como prioridade
zero) e do PIB global (que dá a medida de nossa
competitividade no mundo) há 40 anos. A expansão da
base produtiva, devido aos dois movimentos, não
consegue gerar nem os empregos demandados pelo
aumento vegetativo da população.
É daí que vem a estagnação do emprego formal, a
precarização do trabalho informal, cada vez mais
disfarçado sob a roupagem idílica do
empreendedorismo sob a forma de microempresas
individuais, MEI, e o ônus dos programas sociais que
provem uma subsistência mínima.
A verdade é que o país se enroscou na armadilha de
programas ditos liberais, que visam desinflar o Estado,
os programas sociais e sua coordenação do
desenvolvimento com o setor privado. Não funcionou
nem funcionará até por partir da premissa errada de o
problema ser meramente de excesso de gasto público
em relação ao que a sociedade recolhe de impostos,
32% do PIB. Essa é a ideologia da estagnação.
A causa do nosso buraco
As causas do buraco em que nos enfiamos são políticas
e de desenho da governança do Estado, não de gasto
público excessivo lato sensu, ao contrário da crença
elitista da tecnocracia fiscalista.
É política porque a questão envolve conflitos
distributivos, quem recebe o que das burras do Tesouro
e quem paga. É de governança porque o gasto fiscal
questionável ou ocioso decorre de autonomias legais