Clipping Banco Central (2021-03-07)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Correio Braziliense/Nacional - Economia
domingo, 7 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Produto Interno Bruto

(como do Judiciário) ou no grito (corporações influentes
e intimidatórias, como militares). O governante é a peça
mais frágil, às vezes descartável, dos embates por
privilégios.


A República e sua governança modeladas pela
Constituição de 1988 pressupunham a economia
crescendo ao menos 3,5% ao ano para bancar o custo
da estrutura federativa e seu aparato administrativo,
além dos direitos do Estado de bem-estar. De algum
modo, emulou os EUA, cuja federação tem ampla
autonomia, com o bem-estar europeu.


Talvez, por isso, Estados Unidos e Brasil enfrentem os
maiores problemas entre as grandes democracias do
Ocidente para se adequarem aos avanços da tecnologia
e à impressionante expansão da China. A diferença é
que os EUA são potência dominante, com PIB de US$
20,8 trilhões; o nosso, de US$ 1,4 trilhão, só fala grosso
com o agronegócio.


Eleitor chutou a política


O enigma é se vamos ou não conseguir desatar o
enrosco, e isso na década em que tudo está em
transformação acelerada tanto devido às tecnologias
quanto à insatisfação da sociedade em toda parte com a
sua situação, o seu futuro, os seus governantes, suas
elites e com capacidade de reverberar sua revolta
graças às redes sociais.


Bolsonaro (tal como Trump) se elegeu não pelas
qualidades, mas pelos seus defeitos, como protesto do
eleitor contra a corrupção e a criminalização da política
pela Lava-Jato. Nos EUA, Trump captou a revolta da
classe média empobrecida com a perda de empregos
pela migração de fábricas para a China, com a
percepção de desprezo das elites intelectuais e dos
graúdos de Wall Street. Trump perdeu por não entregar
o que prometera. Joe Biden começa gastando pesado,
US$ 1,9 trilhão, para não repetir tais erros de Trump e
de Obama.


E voltamos ao Brasil. Hoje está claro que Bolsonaro,
militares, o ministro Paulo Guedes, os neoaliados do


Centrão estão desequipados para promover as
transformações necessárias, ainda que a percebam.

Dois estorvos estruturais

O que nos defronta, e nos desafia, são dois obstáculos
estruturais só superáveis com planejamento, programa
de longo prazo, equipe com a sofisticação intelectual da
dupla "Larida", de André Lara Resende e Pérsio Arida,
autores centrais do Plano Real, e presidente eleito com
apoio de uma coalizão política transformadora. Coisa
para 2023.

O 1º obstáculo é a falta entre governante e
parlamentares de visão sobre o significado do
desenvolvimento e como acioná-lo. O 2º é a vocação do
presidente atual para o negacionismo irracional, sequela
de sua inexperiência para montar equipe, gerenciar
pessoas, aprovar planos e nomear prioridades. É o que
é e se desespera com isso.

Qualquer programa de desenvolvimento sério, no qual
já nem precisa como no passado da mão forte do
Estado, teria de começar ligando os botões do
crescimento sem inibição, com foco na criação de
emprego, na infraestrutura de transportes, energia e
comunicações, na saúde pública e educação
profissionalizante tecnológica, na modernização das
empresas, sobretudo industriais. A questão fiscal
implica fazer a burocracia servir aos constituintes, ao
contrário do que é hoje.

93 milhões de dependentes

Conhecer as entranhas do Brasil também é essencial. O
economista Fernando Montero apurou em 2017 que
havia 77 milhões de pessoas recebendo renda do
Estado entre Bolsa Família, Seguro Desemprego,
Abono, LOAS/RMV e INSS. Ou 93 milhões, com os
servidores públicos e militares, entre ativos e inativos.
Tais números só cresceram.

Isso significa que depende do Estado mais da metade
da população em idade ativa. Que tal? Sim, o Brasil tem
deficit. Mas o deficit real é de inteligência, e há quem se
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