Clipping Banco Central (2021-03-07)

(Antfer) #1

Enquanto não passa, elas fazem


Banco Central do Brasil

Correio Braziliense/Nacional - Opinião
domingo, 7 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Ana [email protected]


Amanhã, quando acordar, será Dia Internacional da
Mulher. Amanhã, quando acordar, podemos e devemos
reverenciar, lembrar, celebrar as mulheres -- líderes,
mártires, donas de casa, empresárias, trabalhadoras,
militantes. Amanhã será mais um dia em que
perderemos o ar para, em seguida, retomar o fôlego e,
então, acordar para a vida.


E, hoje, quero falar sobre o fazer feminino,
especialmente em tempos de pandemia. A covid-19
legou a todos, mas especialmente às mulheres, o ônus
extra. Cuidar do outro. Nós, mulheres, a quem sempre
coube jornadas duplas e triplas, agregamos novos
fazeres. Acostumadas a cuidar, cuidamos em dobro. Os
afazeres domésticos, a aula on-line dos meninos, a
saúde mental dos filhos, a assistência aos pais, a
solidariedade com o próximo, tudo isso e um pouco
mais são demandas diárias, e muitas de nós carregam
sozinhas e sem qualquer apoio essas duras missões
cotidianas.


Soma-se a isso um contingente enorme de mulheres


que perderam pais, irmãs e irmãos, filhos, amigas e
amigos confidentes. Perderam a si próprias num
emaranhado de sentimentos confusos, de culpas por
não conseguir suprir tudo e todos, como se fosse
humanamente possível dar conta de tanto.

A pandemia levou grávidas para a UTI e matou tantas
outras, deixando bebês órfãos até da primeira mamada.
Deixou mais mulheres reféns de companheiros
violentos, fazendo do confinamento um ambiente de
tortura e pouca esperança. Legou às mulheres
trabalhadoras da saúde a tarefa inglória de assistir a
mortes em série, ficar longe dos filhos, implorar aos
egoístas cuidados básicos de proteção. Ainda assim, as
mulheres se levantam e fazem. Todo dia, toda hora.
Respiram fundo, guardam suas dores, e fazem o que
precisa ser feito.

Amanhã, quando eu acordar, preciso lembrar quem sou
e de onde venho. Preciso acordar minhas ancestrais e
agradecer a incrível trajetória que tiveram para me fazer
chegar até aqui. Preciso dar as mãos à minha filha,
minha neta, minhas irmãs, sobrinhas, nora e amigas e
lembrar a elas que somos a história que construímos
juntas, e isso já é muito.

Desejo profundamente que, nesta segunda, todas as
mulheres se olhem no espelho com orgulho de ser
quem são, que se reconheçam e se perdoem, que se
amem acima de tudo e que recuperem o direito de
sonhar com dias muito melhores -- também e
principalmente para si próprias. Que elas resgatem suas
crianças internas e suas vontades mais íntimas para
fazer algo por si.

Brinque, dê gargalhada, fale bobagem, fique mais 15
minutos na cama, veja um bom filme, ouça uma música
que alimenta a alma, ligue para uma amiga. Faça, mas
viva -- não apenas sobreviva, não apenas subsista. Dê
um tempo para você. Todas nós somos merecedoras de
autocuidado e autocompaixão.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
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