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Banco Central do BrasilCorreio Braziliense/Nacional - Opinião
domingo, 7 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Banco MundialClique aqui para abrir a imagemAutor: Circe Cunha (interina) //
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Das Organizações Não Governamentais (ONGs) que
têm trabalhado para livrar o planeta e sua imensa
população de uma destruição que parece cada vez mais
iminente, sem dúvida alguma, o Instituto Terra, criado e
gerido pelo renomado fotógrafo Sebastião Salgado e
sua esposa Lélia, há mais de duas décadas, é um
exemplo para o mundo e, principalmente, para nosso
país, acometido pelo flagelo dos desmatamentos e dos
megas incêndios contínuos. Depois de ter plantando
mais de 2,3 milhões de árvores e, com isso,
recuperando mais de 2 mil nascentes no degradado
Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, o Instituto Terra
dará início, agora, a uma ampla e audaciosa campanha
visando recuperar o Bioma Mata Atlântica.
Trata-se de um desafio e tanto, mas que, em mãos do
casal Lélia Deluiz e Sebastião Salgado, tem tudo para
ser um sucesso, não só pelo chamamento que esse tipo
de iniciativa consegue hoje junto à população mais
esclarecida sobre esse assunto, mas, sobretudo, pela
necessidade premente de ver semeado no Brasil o
processo de restauração florestal. A ideia não é nova no
mundo, mas é sempre bem-vinda e necessária em
qualquer tempo e lugar por onde tenham passado
homens com sua sede permanente por riquezas.Quem, por acaso, tenha lido o livro de Jean Giono
(1895-1970), O homem que plantava árvores, de 1953,
por certo deve ter se deparado com a frase: "...os
homens poderiam ser tão eficazes como Deus em algo
mais que a destruição". Com isso, o autor quis dizer que
os homens poderiam, assim se dispusessem, imitar o
Criador, erguendo e cuidando de todas as formas de
vida sobre a Terra, e não destruindo e reduzindo a
cinzas, como faz a morte, ao deixar escombros e aridez
por onde passa.A observação de Jean veio a propósito da incansável
atividade de Elzéard Bouffier, o personagem principal
que, durante uma das maiores chacinas de nossa
história, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918),
continuava, dia após dia, plantando carvalhos numa
região agreste dos Baixos Alpes franceses, já
abandonada pela população local, devido ao
desmatamento secular promovido pelos carvoeiros
naquela região. O contraste entre quem cuidava de
recuperar a vida da região e o morticínio irracional da
guerra é flagrante e mostra, de forma crua, como os
homens podem, ao mesmo tempo, abandonar de lado a
vida em sua plenitude e seguir os passos da morte,
mesmo sabendo dos resultados dessa opção.O texto, que chegou ao Brasil em forma de desenho
animado há poucos anos, sendo, posteriormente,
publicado em livro, parece cada vez mais atual,
justamente por mostrar a capacidade do ser humano em
mudar o mundo ao seu redor, tanto para o bem quanto
para o mal. Nestes tempos em que o nosso planeta
experimenta, por meio do fenômeno do aquecimento
global, o que talvez seja seu maior desafio de todos os
tempos e que pode por um fim à existência da própria
espécie humana na Terra, nada mais hodierno e
premonitório do que as mensagens contidas nesse texto
escrito ainda no século passado.