Clipping Banco Central (2021-03-07)

(Antfer) #1

PAULO LEME - Tamanho (do pacote) não é documento


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
domingo, 7 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Caderneta de poupança

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Autor: PAULO LEME


O meu primeiro livro de teoria monetária no doutorado
em economia da Universidade de Chicago se chamava
A Demanda Por Moeda, de David Laidler. Vindo das
labaredas infernais da hiperinflação na América do Sul,
eu queria mergulhar imediatamente na teoria
monetarista de Milton Friedman para entender as
causas e soluções para tal descontrole do índice de
preços.


Portanto, fiquei frustrado ao me deparar logo no
primeiro capítulo do livro com o problema oposto, a
deflação, onde há uma queda contínua dos preços.
Além disso, quando a taxa de juros cai a zero, a política
monetária é incapaz de estimular a demanda agregada
e tirar a economia da depressão. Esta é a armadilha da
liquidez. É o equivalente macroeconômico do zero
absoluto de Lorde Kelvin.


Foi aí, então, que entrou outro Lorde, Keynes,
desenvolvendo a teoria geral sobre o emprego, juros e
moeda. Uma de suas grandes contribuições foi explicar
que, quando a economia se encontra na armadilha de


liquidez, só o aumento dos gastos do governo é capaz
de estimular a demanda agregada e tirar a economia da
depressão.

Desde a década perdida do Japão dos anos 90 e, mais
recentemente, durante a grande crise financeira de
2008, os economistas entenderam que, quando algum
choque nos leva à beira da deflação, a saída é
combinar uma política monetária expansionista (injetar
liquidez e crédito para evitar a quebra de bancos e
empresas) com um estímulo na política fiscal que
compense o colapso do gasto privado. Esta estratégia
nos tirou da crise em 2009 e voltou a ser utilizada em
2020 para enfrentar a grande recessão causada pelo
novo coronavírus. Desta forma, os governos evitaram
tanto a quebra do sistema financeiro global como uma
depressão mundial.

Isto nos traz ao debate atual sobre política econômica
nos Estados Unidos. Além do compromisso do Fed de
manter uma política monetária expansionista por vários
anos, o governo Biden está tramitando no Congresso
um novo programa de estímulo fiscal (9% do PIB) para
acelerar a recuperação econômica, reduzir o
desemprego e auxiliar as famílias e empresas que mais
sofreram com o lockdown.

O ex-secretário do Tesouro americano Larry Summers
nos alertou que o estímulo fiscal é excessivo em relação
ao hiato do produto, principalmente quando a economia
americana já vem crescendo desde outubro de 2020.
Summers argumenta que o excesso de estímulo fiscal
poderia ser inflacionário, o que forçaria o Fed a
aumentar a taxa de juros prematuramente, o que
derrubaria a economia de volta à recessão.

Preocupado com a análise de Summers, o mercado
financeiro aumentou abruptamente as taxas de juros
dos títulos mais longos do Tesouro americano. A taxa
de dez anos dobrou para 1,45%, o que é explicado pela
subida das expectativas de inflação e o temor de que o
Fed terá de aumentar a taxa de juros em 2022. O
aumento da taxa longa foi tão rápido que derrubou as
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