Clipping Banco Central (2021-03-07)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Espaço Aberto
domingo, 7 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Se hoje os "Basil Browns" escasseiam, na Revolução
Industrial nada que servisse para o seu avanço se
aprendia na escola. Era a prática de bancada, a
imaginação e a capacidade de capitalizar no
conhecimento existente em outras cabeças e no que
havia ido parar no papel.


O entorno desses mecânicos inventivos permitia e
estimulava essas proezas. Eles eram bem alfabetizados
e podiam ler as revistas científicas. Havia bibliotecas
adequadas. Podiam se corresponder com os cientistas
e com colegas. A lei de patentes alimentava o sonho de
enriquecer, se tivessem uma boa ideia. O caldo de
cultura para a inovação estava bem entranhado na
sociedade.


O que isso tudo tem que ver com o Brasil? Mal temos
arqueólogos, ainda menos formados na prática. Todavia
um engenheiro civil e um mestre de obras praticamente
se equivalem, apesar da diferença de trajetórias. E o
caminho da prática aqui ainda é essencial, pois vivemos
num país onde as alternativas escolares são escassas.
Pior, prevalece uma legislação que distorceu e encolheu
a formação de aprendizes no contato com mestres.


E, infelizmente, falta também o que a sociedade inglesa
já oferecia a todos no século 19: domínio da leitura,
bons livros, acesso à informação e por aí afora. A
formação do nosso mestre de obras é atrofiada, por
viver num mundo aonde não chegou o hábito de ler
sobre os assuntos que enriquecem o seu repertório.
Mais grave, o Pisa mostra que não entenderia o que
está escrito e mal sabe calcular.


A maior parte do que sabemos foi aprendida após sair
da escola - em todos os níveis. É aquele aprendizado
que vem junto com a ação. Por assim dizer, é um
subproduto dela. Mas é fatalmente determinado pelas
ferramentas intelectuais adquiridas na escola.


Dito de outra forma, na escola adquirem-se as
ferramentas para aprender ao longo da vida. Não é
surpresa ser a trajetória profissional fortemente
condicionada pela solidez da bagagem intelectual nela


adquirida. Não bastava a experiência prática de Basil
Brown para se ombrear ao cientista do British Museum,
tinha também de haver adquirido a competência para ler
e entender os livros da profissão. Quantos pedreiros no
Brasil já leram livros sobre o assunto ao qual dedicaram
sua vida profissional?

Está mal uma sociedade em que nem se ensinam
direito as profissões nem se instrumentam as pessoas
para que possam, ao longo da vida, aprendê-las por
iniciativa própria.

M.A., PH.D., É PESQUISADOR EM EDUCAÇÃO

Quantos pedreiros no Brasil já leram livros sobre o
assunto a que dedicaram a vida?

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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