Clipping Banco Central (2021-03-07)

(Antfer) #1

OMBUDSMAN- Sem meias palavras


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Poder
domingo, 7 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Flavia Lima


Em meio à desinformação, é preciso fugir de títulos
dúbios ao falar sobre vacina


Na quarta (3), nota da seção Painel publicada nosite da
Folha dizia que 'Médico do Corinthians recém-vacinado
está no grupo de contaminados em surto de Covid-19
no clube'. Um dia antes, uma chamada do UOL nas
redes sociais a ler tava que 'Socorrista do Samu pega
Covid-19 após tomar segunda dose de vacina' Alguns
leitores não perdoaram. 'Tudo para ganhar uns likes.
Negacionistas agradecem, dizia um internauta. 'Mas
vacina não salva?'; questionava outro sarcasticamente.


De modo diferente do tuíte do UOL, a nota do Painel
teve o cuidado de colocar já no título que o médico
havia sido vacinado recentemente -indicando ao leitor
que o organismo não teve tempo para construir a defesa
contra o vírus ou que a pessoa já estava infectada
quando foi vacinada.


No site, o UOL complementou o título ('Socorrista pega
covid após tomar 2º dose da vacina; Butantan explica'),


sugerindo que a história era mais complexa do que
parecia.

No esforço de produzir informação sobre a vida na
pandemia, a vacina é a nova máscara: à medida que a
vacinação avança, as explicações sobre como
funcionam os imunizantes vão sendo destrinchadas pela
imprensa, assim como ocorreu com distanciamento
social, higienização das mãos e tratamentos ineficazes.
Especialistas ouvidos pela coluna dizem que é preciso
que a imprensa mostre que a vacinação é crucial para o
controle da pandemia, sem meias palavras nem títulos
dúbios. Sendo assim, como chamar a atenção para
esses casos incomuns sem alimentar a desinformação e
levar o leitor a pensar que vacinas são ineficazes ou até
mesmo perigosas?

Com tanta notícia disponível, os títulos buscam cada
vez mais atrair o interesse do leitor a partir de eventos
excepcionais, como os vacinados infectados. Com o
avanço da vacinação, esses casos devem ganhar mais
visibilidade porque chamam a atenção de uma
audiência ansiosa por segurança -ede um grupo que
tenta provar que sua opinião desfavorável ao imunizante
é a correta.

O desafio é dizer em poucas linhas que podemos
adoecer mesmo após tomar a vacina, sem passar a
impressão errada de que o imunizante não funciona.

Carlos Orsi, editor-chefe da revista Questão de Ciência,
diz que a solução para os títulos de reportagens sobre
infectados recém-vacinados não é trivial.

'Colocaria no título que o médico do Corinthians pegou
Covid-19. Jogaria para o subtítulo ou para o corpo da
matéria a informação de que ele, provavelmente, se
contaminou entre as duas doses da vacina. Sei que é
heresia recomendar a um jornalista que esfrie um título
[retire dele o elemento de maior atração], mas, dada a
conjuntura atual, talvez essas coisas devam ser
ponderadas antes de publicar'; diz Orsi.
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