Clipping Banco Central (2021-03-07)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
domingo, 7 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

para retração de tudo. No nosso caso, fechamos as
lojas em 19 de março, exceto a eletrônica. A companhia
se preparou para uma retração absurda. Repensou o
negócio.


E a ação do governo?


FH Acho que o governo até trouxe uma boa reação,
com planos consistentes para manutenção do emprego
dentro do possível. Acho compreensível o custo do
déficit fiscal disso. Ele não tinha perspectiva de ser
recorrente. Acho que era importante naquele momento
para sobrevivência. Acaba errando um pouco porque o
auxílio emergencial, na minha visão, era algo importante
para fazer as pessoas que não tinham renda
sobreviverem. Mas não para fazer elas trocarem de
geladeira, carro. Acho que teve um pouco de confusão.
Criou uma certa demanda artificial.


E acabamos entrando no segundo semestre com uma
surpreendente mudança de mercado. Para nós, por
exemplo, no quarto trimestre, o grande desafio foi
conseguir produzir, porque tínhamos nos desmobilizado.
O mercado, mais aquecido. E a produção, retraída. Para
retomar, um desafio, que até continua.


A gente vê aquecimento meio artificial. Não tem tanta
lógica. Tanto é que o grande indicador que demonstra
isso é essa pressão inflacionária nos preços do atacado.
No varejo, nem tanto. Tem que fazer algo concreto para
regular o ambiente, porque, com esse desemprego, e
sem a renda acompanhando a inflação, gera uma crise
de demanda, de consumo. E aí volta a questão de mais
desigualdade.


Eu sei que não é simples resolver. A gente busca dos
Poderes Executivo e Legislativo uma aceleração das
reformas, e acho que esse ambiente político tem se
mostrado um pouco tenso demais.


O falta fazer?


FH Infelizmente, a gente está vivendo hoje uma
pandemia que parece ser descontrolada. Notícias
mostram drama em assistência hospitalar. Acho que


estamos em um momento em que o importante é que as
lideranças realmente demonstrem coerência e consigam
encontrar um caminho de calma para a população e
retomada dos negócios sem essas oscilações de fecha
tudo ou abre tudo, ou o mercado despenca ou volta
subitamente a consumir demais.

Acho que esse padrão de dar auxílio emergencial e tirar
não é o mais interessante. O interessante mesmo é
acelerar privatizações, atrair capital estrangeiro.

A postura do governo, muitas vezes, afugenta capital.
Não me refiro a capital para entrar em mercado
financeiro especulativo. Eu me refiro a capital para
projeto de infraestrutura, investimento que gere
emprego, renda para a sociedade e combata essa
desigualdade.

A preocupação com postura do governo é recente? A
agenda liberal não foi o esperado?

FH É confuso. O compromisso com a agenda liberal,
que foi parte integrante da campanha do governo, é
posto em xeque às vezes. E deixa a sociedade, não só
o empresário, meio confusa sobre qual é o caminho.
Parece não ter consistência.

Esse episódio de troca da presidência da Petrobras, não
quero entrar no mérito da troca, acho que é direito do
acionista controlador trocar. Não avalio um ou outro
nem tenho preconceito porque é general ou psicólogo.
Tanto faz. Mas, de novo, é o como foi feito. Deu espaço
para a confusão de: então está se jogando fora o projeto
liberal? E algo, na minha opinião, absolutamente
necessário para uma economia como a brasileira, tão
potente.

Com tantos milhões de consumidores e riqueza natural,
parece fácil. Se a gente conseguisse colocar
investimento nisso, ia gerar tanta riqueza, emprego,
modernidade. E esse lado político parece que é fazer
gol contra. Não dá para entender bem.

E a questão da escassez de matéria-prima na
pandemia? Thiago Hering A retomada em meados de
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