Clipping Banco Central (2021-03-07)

(Antfer) #1

Ilusionistas


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
domingo, 7 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Marcos Lisboa


O debate econômico no Brasil por vezes parece truque
de prestidigitador. Acena-se com a mão esquerda
enquanto a da direita discretamente move as cartas.


As críticas às medidas para conter o aumento do gasto
público obrigatório são usualmente rebatidas com a
lembrança dos problemas sociais. No fim do dia,
contudo, a expansão permanente do governo termina
sendo consumida por aumentos na despesa com
servidores, com poucos avanços na qualidade da
política pública.


Ano passado, estados e municípios pediram ajuda ao
governo federal. Suas receitas haviam caído em razão
da recessão. Com apoio do Supremo, deixaram de
pagar suas dívidas com a União e ainda receberam
quase R$ 100 bilhões, valor maior do que perderam de
arrecadação.


A benevolência permitiu a complacência com o
descontrole dos gastos com servidores em governos
locais. Muitos têm remunerações acima do teto


constitucional e regimes especiais de aposentadoria.
Pouco se fala, contudo, da disparidade de renda entre
os funcionários públicos e o restante da população.

Os recursos federais para o fundo da educação básica
(Fundeb )mais do que dobrarão nos próximos anos,
sendo que pelo menos 70% devem ser destinados a
salários de servidores. A legislação, além disso, indexa
a remuneração do magistério ao valor total dos
recursos, dividido pelo total de alunos.

Com a transição demográfica, o número de estudantes
vem caindo há anos. O resultado é que a remuneração
de professores, incluindo aposentados, aumentou 54%
acima da inflação entre 2009 e 2019, e vai subir mais
com os recursos adicionais.

Aumentos salariais foram concedidos a outras
corporações, como a de policiais, no começo da
pandemia, enquanto boa parte dos trabalhadores estava
desempregada.

Sindicatos de servidores públicos propõem novos
tributos em razão da crise. Entretanto, limitar seus
ganhos ao que determina a Constituição ou avaliar o
seu desempenho, para melhorar a gestão da política
social, são propostas rechaçadas como neoliberais.

A novidade é a tentativa de iludir com a mão direita
quando quem opera é a esquerda. O governo, que se
diz liberal na economia, já capitalizou empresa estatal
para produzir embarcações, a Emgepron, e aumentou
distorções tarifárias, privilegiando a importação de
armas e onerando a de alimentos.

O último truque foi a tentativa de beneficiar os
caminhoneiros. Pelo visto, não havia técnicos para
explicar os danos colaterais da intervenção. O câmbio
se depreciou, o que pressiona ainda mais os preços dos
combustíveis.

Confiantes no ilusionismo, os prestidigitadores não
reconhecem seus próprios erros. O inferno sempre são
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