Adega - Edição 185 (2021-03)

(Antfer) #1

Revista ADEGA - Ed.185 | (^13)
Perguntavam: ‘O que vem depois
do Malbec na Argentina?’ Ficava
indignada, pois era como perguntar
a Aubert de Villaine o que vem
depois do Pinot Noir na Borgonha.
Às vezes, não há um embate
entre ciência e vinho?
O debate que sempre tivemos
com meu pai foi ver o vinho como
ciência ou como arte. Como se
ninguém pudesse aceitar que arte
e ciência pudessem estar juntas.
Como se tivesse que escolher entre
um ou outro. Qual a diferença
entre um médico que acabou de
se formar e um com 20 anos de
prática? O instinto. O médico com
experiência de 20 anos entra na sala,
vê o paciente e sabe do que ele está
doente. O médico jovem tem que ir
ouvir o coração, olhar os exames de
laboratório etc. Você olha o paciente
e sabe o que está acontecendo, isso
é arte.
Quais foram os primeiros objetivos?
Tínhamos dois problemas muito
sérios, um era preservar a natureza
e outro a cultura do vinho – não
só em Catena, mas ao redor do
mundo. Portanto, temos problemas
fundamentais, na verdade, para
a agricultura. O primeiro é o da
mudança climática. Na Argentina
não tivemos tanto problema com
o aumento de temperatura, mas
temos um problema de falta de água.
Para a questão da temperatura, já
fizemos a mudança para as zonas
mais frias, mais altas, há 25 anos



  • foi quando meu pai mudou a
    agricultura da Argentina para o Vale
    do Uco. Na verdade, a Argentina,
    graças ao meu pai, hoje está em uma
    posição muito boa em termos de
    temperatura. Depois também temos
    o problema das doenças da videira,
    que deve ser visto a partir da questão
    da sustentabilidade com o uso
    dos fertilizantes e pesticidas. Hoje
    sabemos que não é bom para o meio
    ambiente usar muitos pesticidas
    porque, no final, eles matam os
    micróbios bons da terra.


A questão da microbiologia
aparece em vários estudos do
instituto, não?
Temos um vinho chamado Mundus
Bacillus Terrae, um “micróbio

elegante da terra”. Quero que as
pessoas saibam que se alguém matar
aquele micróbio, a plantinha não
será capaz de absorver a água e os
nutrientes porque hoje todos os
seres vivos, incluindo as plantas,
animais e pessoas, dependem
de micróbios. Para preservar a
natureza, é preciso estudá-la
cientificamente, porque nada é
óbvio. Eu, em Catena, quero ser um
líder na viticultura, mas tudo o que
aprendo quero compartilhar com
o resto do mundo, pois se aprendo
algo sobre um assunto importante,
minha obrigação é compartilhar.

E como preservar
a cultura do vinho?
Preservar a cultura do vinho é
um assunto muito sério, é um
problema global, pois as pessoas
estão se mudando para a cidade.
Free download pdf