MÍRIAM LEITÃO - As reviravoltas da terra redonda
Banco Central do BrasilO Globo/Nacional - Economia
terça-feira, 9 de março de 2021
Banco Central - Perfil 2 - TCUClique aqui para abrir a imagemAutor: Com Álvaro Gribel (de São Paulo)
O terremoto Fachin terá muitos efeitos secundários,
mas começou mudando o dia de ontem. Havia
amanhecido um tempo ruim para o presidente
Bolsonaro, com o pacto entre governadores deixando
claro que a sua inépcia agravava a tragédia da
pandemia. No fim do dia, abrigado num guarda-chuva,
Bolsonaro falou longamente sobre variados assuntos,
reclamou até da alta do dólar provocada pela decisão
que beneficiou o ex-presidente Lula. "A bolsa foi lá pra
baixo, o dólar lá pra cima. Todos nós sofremos com
uma decisão como essa". Nos dias anteriores, o dólar
subiu e a bolsa despencou por causa dele, Bolsonaro.
Um dos primeiros efeitos da decisão de Fachin de
anular tudo o que foi decidido a partir da 13- Vara
Federal de Curitiba sobre Lula é mudar o cenário para a
eleição de 2022, com Lula elegível. Outra consequência
é que réus como o ex-governador Sérgio Cabral e o ex-
presidente da Câmara Eduardo Cunha podem vir a se
beneficiar da reviravolta. Todos que não forem
diretamente ligados à Petrobras podem questionar seus
processos. Cabral foi condenado pela Calicute e julgado
pela 7- Vara, no Rio, mas um ministro do Supremo me
disse que, a partir de agora, tudo tem chance de ser
revisto.Bolsonaro voltou a ficar confortável para falar da
"bandalheira" do PT. E afirmou que os desvios do
BNDES haviam sido de "trilhão de real". Ele nunca
conseguiu, nem mesmo trocando o presidente do
banco, abrir a tal caixa-preta do BNDES, mas cria uma
cifra imaginária e assim pode fugir de temas incômodos,
como a mansão comprada pelo seu filho Flávio. Ontem
mesmo, o procurador junto ao TCU, Lucas Furtado,
iniciou um procedimento questionando o fato de o
senador Flávio Bolsonaro ter casa e usar apartamento
funcional. Isso seria, segundo o procurador de contas,
"crime e ato de improbidade".Uma das questões incômodas para Bolsonaro era o fim
da Lava-Jato. Afinal, ele surfou na onda anticorrupção,
sem qualquer relação prévia com essa agenda. Foram
as decisões de seu governo, primeiro minando o pacote
anticrime, depois instalando um inimigo da Lava-Jato na
Procuradoria- Geral da República (PGR), que levaram
ao desmonte das Forças-Tarefas. Portanto, a conta
estava com ele. Ontem, ele jogou o peso sobre o
ministro que anulou as condenações de Lula. "Luis
Fachin sempre teve forte ligação com o PT. Então não
nos estranha uma decisão nesse sentido".Na verdade, Fachin tomou muitas decisões contrárias
ao PT. Um ministro do Supremo, surpreso com a
decisão de Fachin, me disse o seguinte. "Ele negou
tudo o que Lula pediu e agora, de repente, dá tudo de
uma vez só". Outro disse que era a "estratégia de
desespero" do ministro, diante das várias derrotas
recentes da sua relatoria.A decisão abala a confiança no próprio Supremo. Desde
a primeira hora, a defesa do ex-presidente Lula arguiu a
competência do tribunal de Curitiba, defendendo a tese
de que Sérgio Moro não era o juiz natural. Os fatos
teriam ocorrido em São Paulo Guarujá, Atibaia - e o
acusado morava em Brasília, na época. Mas a