Presidente atrai ação externa ao fazer do vírus nova Amazônia
Banco Central do BrasilFolha de S. Paulo/Nacional - Poder
terça-feira, 9 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - ColunistasClique aqui para abrir a imagemAutor: Igor Gielow
Sem lutar uma guerra fronteiriça importante há 150
anos, os militares brasileiros sempre tiveram na
soberania sobre a Amazônia um fundamento de suas
preocupações estratégicas.
O temor de uma internacionalização da área, amparada
na má gestão de um bem global como a floresta, deixou
os quartéis e virou discurso de governo com a ascensão
de Jair Bolsonaro à Presidência em 2019.
Isso até aqui. A condução desastrosa da pandemia de
Covid-19 pelo capitão reformado do Exército ameaça
tornar tangível o espectro que sempre assombrou os
fardados: o de ingerência internacional no Brasil.
O tema tem sido recorrente em conversas de militares,
particularmente aqueles incomodados com a adesão
comandada pelo Exército ao governo, com a presença
maciça de oficiais-generais da reserva no ministério - e
com um membro do serviço ativo, Eduardo Pazuello, à
frente do da Saúde.
Afinal de contas, como disse nesta segunda-feira (8),
Bolsonaro fala em "meu Exército" ao negar a hipótese
de um lockdown que de resto não ocorre no país.O Sars-CoV-2 é anova Amazônia, e aqui argumentos
sobre soberania perdem eficácia enquanto morrem
cerca de 2.000 pessoas por dia em solo pátrio.Se os incêndios de 2019 ressuscitaram a retórica
europeia de punir o Brasil por não conservar sua
floresta, algo ecoado de certa forma pelo novo governo
americano de Joe Biden, ali sempre se falou de
retaliações comerciais pontuais e planos de auxílio.Os delírios militares de confrontação com tropas de
Paris na Guiana Francesa e a decretação da República
Ianômami pelas Nações Unidas estavam contidos a
documentos como o "Cenários de Defesa 2040", um
estudo do Ministério da Defesa revelado pela Folha no
começo de 2020.Eles vinham em linha com toda a retórica do governo.Ela por sua vez se comunica com os anos 1930, quando
o livro "Aspectos Geográficos Sul-Americanos", do
capitão do Exército Mário Travassos (1891-1973), deu o
norte teórico para a política de integração em nome da
soberania vigente desde o Brasil Colônia.Com a Covid-19 é diferente. A combinação do
negacionismo contra o distanciamento social e
máscaras e da protelação na vacinação, oriunda do
presidente, ameaça tornar o Brasil um celeiro de novas
variantes do vírus.Essas mutações, como a já célebre P.1 surgida em
Manaus, são mais transmissíveis e potencialmente mais
fatais. Com seu processo de vacinação mais acelerado,
o mundo rico olha com horror a possibilidade de haver
um ninho de infecções que driblem seus imunizantes
logo ali.Ao longo da semana passada, foi sendo cristalizada nos