ANTONIO CORRÊA DE LACERDA - Por que retomar o auxílio
emergencial
Banco Central do BrasilO Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
terça-feira, 9 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Produto Interno BrutoClique aqui para abrir a imagemAutor: ANTONIO CORRÊA DE LACERDA
O agravamento da pandemia de covid-19, provocado
por novas variantes do vírus, falhas de comportamento
das pessoas e lentidão das medidas para atacá-la,
como a testagem e vacinação em massa, segue tendo
implicações gravíssimas para a sociedade brasileira. No
entanto, seria imprudente e ineficaz "queimar etapas" e
tentar restabelecer a normalidade das atividades, sob o
argumento do impacto do efeito econômico. Não resolve
negar a doença ou desrespeitar as recomendações dos
cientistas.
Mas o que pode e deve ser feito, além da melhora na
gestão do combate à pandemia, é a intensificação de
medidas que venham a amenizar os impactos
econômicos, políticos e sociais da pandemia. No ano
que passou, por exemplo, o pagamento do auxílio
emergencial foi determinante para evitar que a queda do
Produto Interno Bruto (PIB) fosse ainda mais intensa,
assim como seus impactos, como o aumento do
desemprego, quebra de empresas, etc.
Seria tergiversar sobre o problema apontando para uma
possível melhora automática em 2021. Pelo contrário,
sob este ponto de vista, 2020 é mais um ano que não
terminou! Muitos dos efeitos do ano passado
permanecem, apesar da mudança do calendário
gregoriano.Às debilidades estruturais brasileiras, como a extrema
desigualdade, baixa renda e insuficiência de moradia e
saneamento básico para parcela expressiva da
população, somam-se outros aspectos conjunturais. A
taxa de desocupação já atinge 14,1% relativamente à
População Economicamente Ativa (PEA), número que
cresce para 29%, o equivalente a 32,2 milhões, quando
consideramos a taxa de subutilização da força de
trabalho.A atividade econômica geral segue fraca, com grande
possibilidade de ocorrer uma queda do PIB nos dois
primeiros trimestres do ano. Setores-chave para a
recuperação, como a indústria, continuam em leve
recuperação comparativamente aos piores momentos,
mas ainda longe de alavancar a retomada pra valer.A produção industrial de 2020 registrou uma queda de
4,5%, e as maiores retrações foram observadas nos
bens de consumo duráveis (-19,8%) e nos bens de
capital (-9,8%). É o segundo ano seguido de queda, já
que em 2019 o resultado tinha sido negativo em 1,1%.
Em relação a 2013, ano anterior à forte crise do período
20142016, a queda acumulada é de 18,6%! A
fragilidade do quadro econômico e social brasileiro está
a exigir um conjunto de medidas para enfrentar o
problema social, mas também, e ao mesmo tempo,
fomentar a atividade econômica. Isso implica uma nova
rodada urgente de pagamento de uma renda básica.
Torna-se também crucial a implementação de medidas
de socorro aos pequenos negócios, que em geral têm
menos resiliência do que as grandes empresas para
sobreviver em um ambiente inóspito.Especialmente nas grandes cidades, mas não apenas, a
degradação é evidente. Há um claro aumento da
população em situação de rua, assim como o