Dólar alto, expectativas baixas
Banco Central do BrasilO Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
terça-feira, 9 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Banco CentralClique aqui para abrir a imagemPandemia solta, vacinação lenta, hospitais lotados,
inflação pressionada, juros em alta no mercado
americano, incerteza sobre os juros no Brasil,
insegurança fiscal: há um vasto cardápio de motivos
para explicar os temores do mercado. Denunciar a falta
de rumo já se tornou lugar comum, entre economistas
de renome, nas avaliações do governo federal. Nesse
ambiente de muita névoa e muita dúvida, a semana
começou com o dólar disparando nas primeiras
negociações de ontem. A cotação cedeu com as vendas
de exportadores, mas no meio da tarde estava acima de
R$ 5,72, nível 11% superior ao do início do ano. Parece
estranho, além de assustador, um dólar tão caro num
país com superávit comercial, contas externas em
ordem e robusto volume de reservas. Algo muito
anormal deve estar ocorrendo.
A estranheza desaparece quando se vê o presidente da
República demitir o presidente da maior estatal
brasileira, uma grande empresa de petróleo, para dar
satisfação a seus amigos caminhoneiros. Tudo parece
mais claro - e até mais assustador - quando esse
presidente se refere a seu indicado para a vaga como
alguém disposto a atender às suas preferências. "Agora
o general vai chegar na Petrobrás e fazer o trabalho que
eu gostaria que fizesse, que o outro não fazia", disse ele
em seu pronunciamento semanal. Assim se trata uma
grande empresa de capital aberto e com ações
negociadas no exterior?Sim, se a decisão depender do capitão Bolsonaro.O dólar instável e muito mais caro do que seria, se
houvesse no Brasil um governo central de padrões
normais, tem sido, desde o ano passado, um importante
combustível para a inflação. Mas esse governo, ou,
mais propriamente, desgoverno, é um permanente fator
de insegurança. Há motivos muito sérios para se
restabelecer o auxílio emergencial, especialmente num
quadro de alto desemprego, agravamento da pandemia
e preços já muito altos para as famílias pobres. Mas
ninguém pode dizer com alguma segurança como se
arrumarão as contas públicas neste ano e no próximo.A insegurança quanto a essas contas tende a dificultar o
financiamento do Tesouro. Será inútil o Banco Central
(BC) insistir em juros básicos de 2% ao ano se faltar, no
mercado, confiança em relação ao controle das finanças
federais. Se o pessimismo aumentar, a rolagem da
dívida pública ficará mais difícil e mais cara, com perdas
para o governo e para o setor privado.A essas preocupações é preciso adicionar o temor da
inflação. No mês passado, o índice Geral de Preços
(IGP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) subiu 2,71%,
pouco menos que em janeiro (2,91%), mas a taxa ainda
foi muito elevada. O indicador aumentou 5,69% no bi-
mestre e 29,95% em 12 meses. Em fevereiro do ano
passado, a variação mensal havia sido de 0,01%, com
6,40% de alta acumulada em 12 meses.O índice de Preços por Atacado, principal componente
do IGP, subiu 3,40% em fevereiro e 41,77% em 12
meses. Perdeu um pouco de impulso, mas permanece
ameaçador. Em sentido contrário, o índice de Preços ao
Consumidor aumentou 0,54% em fevereiro, o dobro da
taxa de janeiro (0,27%), e acumulou variação de 5,41%