Guedes defende manter recurso da Receita Federal
Banco Central do Brasil
O Globo/Nacional - Economia
quarta-feira, 10 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes
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Autor: FERNANDA TRISOTTO
O ministro da Economia, Paulo Guedes, articula para
retirar da proposta de emenda à Constituição (PEC) que
recria o auxílio emergencial um trecho que coloca em
risco a manutenção do fundo que custeia as atividades
da Receita Federal. A previsão incluída no texto gerou
protestos de servidores do Fisco.
Em reunião interna solicitada pelo secretário especial da
Receita, José Barroso Tostes Neto, Guedes afirmou
não concordar com a mudança na regra e informou ter
entrado em contato com a Secretaria de Governo para
que a pasta peça à Presidência da Câmara a
manutenção da redação que, na prática, permite que
receitas sejam carimbadas para sustentar o órgão.
A informação consta de um comunicado interno de
Tostes a auditores fiscais, ao qual O GLOBO teve
acesso, e foi confirmada por fonte próxima a Guedes.
Procurados, o Ministério da Economia e a Receita
Federal não quiseram comentar o caso.
O texto aprovado no Senado acabou com a ressalva
que protegia o Fundo Especial de Desenvolvimento e
Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização
(Fundaf), mas privilegiou outros fundos federais.
CRUCIAL PARA ATIVIDADES
Os auditores fiscais começaram ontem uma mobilização
nacional. Segundo o sindicato, houve adesão de cerca
de 90% dos oito mil profissionais da Receita. Eles
asseguram que não há prejuízo para cargas perecíveis,
animais e itens para combate à Covid-19.
O presidente do Sindifisco Nacional, Kleber Cabral,
argumenta que, ainda que a Receita não tenha
autonomia para gastar os recursos do Fundaf, essa
fonte de custeio é crucial para a manutenção das
atividades.
'DEVE ESTAR INCOMODANDO
Para dois ex-secretários da Receita Federal ouvidos
pelo GLOBO, o fim da proteção ao Fundaf revela
desapreço pelo Fisco.
- Se a Receita não funcionar, não vai ter dinheiro. E
uma decisão lamentável e até parece que tem outros
propósitos: justamente acabar com a administração
tributária, que deve estar incomodando. E ela incomoda
quem sonega - afirma o exchefe do Fisco Jorge Rachid.
Já Everardo Maciel, também ex-secretário da Receita,
considera que tirar a proteção constitucional do Fundaf,
enquanto outros fundos permanecerão livres, é uma
questão simbólica e relevante.
Ele lembra que o texto original da Constituição trazia
cinco exceções para as vinculações. A única retirada foi
a da Receita. Em contrapartida, foram adicionadas mais
ressalvas, que agora somam 26.
- E desnecessário, gratuito portanto, é desapreço ao
Fisco e não faz o menor sentido. Se pouparam até o
fundo do café - diz Everardo.