O que dizer de uma gota d'água que tenha ocasionalmente
pulado fora da imensidão do mar eterno? Seria certamente de
grande perplexidade, até pela difícil sobrevivência, dado às
inumeráveis intempéries que se lhe assolariam.
E se fizéssemos uma analogia dos seres humanos como se
eles fossem esta gota d'água, ou mesmo multiplicada ao
ponto de formar uma poça d'água?
Nas condições de separação, a primeira coisa a não fazer
sentido seria a eternidade. Sabe-se que uma poça d'água não
resiste sequer a pequenas estiagens, podendo ressurgir apenas
numa nova temporada chuvosa. Além do mais, nesta
condição finita de vida, apenas possível nos temporais,
sempre se tem um sentimento de enorme vulnerabilidade.
Nas condições de separação, também existe aquele
sentimento de distância. Por vezes, é como se o próprio
clamor não fosse devidamente ouvido. Será que a grandeza
do mar não perceberia a solidão dos que vivem às suas
margens? Existe também o problema que, aparentemente,
todas as ações da poça d'água fortalecem o próprio
isolamento, como a construir novas barreiras em sua volta.
Por fim, resta à poça d'água uma espécie de rendição,
baseada na certeza que virão torrentes suficientes para
desconstruir os seus velhos diques, o que possibilitaria que as
poças rendidas se juntassem formando um rio rumo ao
Oceano da Unidade.