Conhecimento Prático Língua Portuguesa e Literatura - Edição 77 (2019-06)

(Antfer) #1
LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA | 13

MARA MAGAÑA é jornalista,
escritora, professora de
Literatura e Produção de Textos.

SOBRE A AUTORA

REFERÊNCIAS

Isso acontece justamente em um
momento difícil para editoras, livrarias e
consequentemente autores...
Eu costumo enxergar a história de maneira
dialética, e o que isso significa? Significa que
acho que os movimentos são contemporâneos,
eles acontecem ao mesmo tempo, isso é uma es-
pécie de resposta àquelas vozes que ganharam
repercussão nos últimos anos, como é o caso
das pequenas editoras, as editoras inclusive do
movimento negro, que são uma espécie de res-
posta ao que está aí. Se enxergarmos a história
de modo dialético, acho que essas coisas vão
sempre existir, ora predominando uma, ora pre-
dominando outra. O que não podemos é acredi-
tar que uma sempre sobressaia de maneira ple-
na. Por que estou dizendo isso? Porque essa é
uma espécie de esperança de nariz fora da lama,
para que possamos vislumbrar um futuro mais
promissor, porque no fim das contas vamos
continuar produzindo, mesmo que não existam
as grandes livrarias, mesmo que não existam
as grandes editoras. Essas pequenas editoras
têm um papel importantíssimo. A Patuá, que
é minha editora, e as outras médias, pequenas
fazem um papel fundamental de distribuição e
fazem com que a literatura fique viva. Mesmo
que seja em pequenas quantidades, a Patuá
inclusive publica muitos autores que estão ini-
ciando a sua carreira e ela dá voz aos autores
que, por exemplo, a Companhia das Letras ja-
mais daria. É óbvio que depois que esses auto-
res ganham alguma visibilidade, eles até podem
ir para as grandes editoras, mas o papel das pe-
quenas editoras no Brasil atual é fundamental,
assim como das pequenas livrarias, assim como
dos saraus, assim como desses movimentos ar-
tísticos da periferia.

Você tocou em um ponto extremamente
interessante que é a questão das vozes
das periferias. Nota-se ultimamente
que há um movimento, ações que estão
vindo da periferia e que são as únicas
novidades que temos em termos de
literatura. A tecnologia também chegou
e com ela veio a facilidade maior de
levar a arte, de propagar as ideias, os
coletivos, por exemplo.

Ah, eu creio que as no-
vas tecnologias, sobretudo
as redes sociais, têm um
papel fundamental nessa
nova configuração da lite-
ratura, das artes, das vozes
de resistência. Acho que
são concomitantes a inter-
net, as redes sociais junto
com as pequenas editoras,
até porque, por exemplo,
ela não está presente nas
grandes livrarias, e se es-
tivesse já teriam fechado as portas, porque as
livrarias pedem 50% do preço de capa. E a gran-
de maneira é sobreviver com a divulgação nas
redes sociais e com a venda dos livros on-line,
dos livros físicos... Acho então que a combina-
ção das pequenas editoras com as redes sociais
e a internet com as novas tecnologias pode sim
desenhar um novo cenário. Aliás, já estão, junto
com esse movimento que vem da periferia.

No meio de toda essa atividade, você
também é artista plástico. Como se dá a
intersecção das duas manifestações em
suas obras?
Na verdade, acho que não existe essa de
parte da mentalização. Não existe essa diferen-
ça tão grande que é colocar a da arte em uma
gavetinha. Acho que são manifestações dife-
rentes, mas o brotar é o mesmo, expressar essa
verdade é o que vale. Muitas vezes o mesmo
sentido artístico já se transformou em conto
e em pintura, por exemplo. Eu me lembro do
caso de uma visita que fiz à casa do vovô, real-
mente no vazio de uma instituição de idosos,
que se transformou num conto e também no
quadro. Várias vezes também fiz uma pintura e
depois aquela pintura ressuscitou uma poesia.

E o que tem de novo chegando, quais os
novos projetos?
Continuo dando palestras e oficinas pelo
Brasil, e o que vem para o segundo semestre,
entre setembro e outubro, é o meu quarto li-
vro, o primeiro de poesia. O título é Um clitó-
ris encostado na eternidade e também vai sair
pela editora Patuá.

BARROS, Manoel de Barros.
O livro das ignorãças. Rio de
Janeiro: Record, 2001.
CAMUS, Albert. O Estrangeiro.
Rio de Janeiro: Ed. Best Bolso,
2016.
PESSOA, Fernando. O guardador
de rebanhos. São Paulo: Globus
Editora, 2011.
RESENDE, Otto Lara. Bom
dia para nascer. São Paulo:
Companhia das Letras, 2011.

MILLÔR VIOLA
FERNANDES
( 1923 - 2012 )
Mais conhecido como
Millôr Fernandes,
foi um desenhista,
humorista,
dramaturgo, escritor,
poeta, tradutor e
jornalista brasileiro.
Conquistou
notoriedade por
suas colunas de
humor gráfico em
publicações como
Veja, O Pasquim e
Jornal do Brasil.

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