Conhecimento Prático Língua Portuguesa e Literatura - Edição 77 (2019-06)

(Antfer) #1
38 | LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA

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LEONARDO
ARROYO
( 1918 - 1986 )
Jornalista, contista,
ensaísta, autor de
livros infantis e poeta.
Entre seus diversos
livros publicados está
Literatura infantil
brasileira, lançado
originalmente em 1968.
Intensamente lido e
citado por quantos se
interessam pelo tema,
esse texto apresenta
um vasto panorama
da literatura nacional
que circulou entre as
crianças brasileiras,
tomando por ponto de
partida a literatura oral e
chegando até a produção
de Monteiro Lobato.


(Segundo livro de leitura para uso das escolas
primárias), de Monteiro Lobato. A obra tornou-
-se um sucesso imediato e foi adotada nas es-
colas públicas do estado de São Paulo. Lobato
era um escritor conhecido pela temática regio-
nalista, sendo Urupês, de 1918, sua obra mais fa-
mosa nessa vertente. No entanto, é como autor
de literatura infantil e juvenil que o escritor
será mais conhecido na posteridade pelo câno-
ne literário nacional.
Para LEONARDO ARROYO^4 , a obra Narizinho
arrebitado apresenta as bases da literatura
infantil brasileira, visto que nela há “o apelo
à imaginação em harmonia com o complexo
ecológico nacional; a movimentação dos diálo-
gos, a utilização ampla da imaginação, o enre-
do, a linguagem visual e concreta, a graça na
expressão”. Enfi m, pode-se perceber “toda uma
soma de valores temáticos e linguísticos que
renovava inteiramente o conceito de literatura
infantil no Brasil”
Nesse espaço diegético, há também outros
personagens que passam a fazer parte do ciclo
de narrativas no sítio de Dona Benta: o meni-
no Pedrinho; os bonecos fantásticos Emília e
Visconde; os animais falantes, tais como o por-
co Rabicó, o burro Conselheiro e o rinoceronte

Quindim. Além disso, verifi ca-se seguidamen-
te a visita ao sítio de personagens clássicos
da literatura infantil estrangeira: Peter Pan,
Alice do País das Maravilhas, Popeye, entre
outros conhecidos. Interessante sublinhar que
Lobato, ao introduzir os personagens estran-
geiros, apropria-se deles de modo antropofá-
gico, pois esses personagens naturalizam-se
quando chegam ao sítio e convivem com os
personagens nacionais.
Um aspecto importante a se ressaltar é que
os personagens de Monteiro Lobato tornaram-
-se tão conhecidos pelo público leitor brasilei-
ro, de modo que transcenderam o texto literá-
rio e passaram a ter vida em outros meios mi-
diáticos, tais como: a televisão, o rádio, o teatro
e os quadrinhos.
Conforme enfatizam Lajolo e Zilberman,
no segundo período da literatura infantojuve-
nil, em que Monteiro Lobato torna-se o centro
do cânone, produziram-se várias histórias e
projetos literários originais, que estabeleceram
duas características principais da literatura
para crianças no Brasil: primeiro, o predomínio
do espaço rural na narrativa, ou seja, o campo;
segundo, a fi xação de um grupo de persona-
gens no qual se destacam as crianças.

CAPA/ Monteiro Lobato


Considerada sua obra-prima, Urupês
reuniu 14 contos e foi publicada em


  1. Um dos textos dessa obra, cujo
    título dá nome ao livro (Urupês), traz
    seu mais famoso personagem, “Jeca
    Tatu”, encenando a fi gura do caboclo
    em contraposição ao índio surgido
    no período do Romantismo, que, na
    fase indianista, representa o ícone da
    brasilidade. O caboclo, ao contrário,
    passa a ser a fi gura do modelo ideal
    do Modernismo, e não era uma fi gura
    idealizada como era o indígena nas
    obras dos escritores românticos. Jeca
    Tatu representava todo o atraso e mi-
    séria socioeconômica do País.
    Lobato era, antes de tudo, um homem
    que polemizava pelas suas ideias irre-
    verentes e críticas que costumavam


sacudir os intelectuais brasileiros em
uma época de reações progressistas
e modernas na década de 1930. Seu
artigo “Paranoia ou mistifi cação?”, em
que faz severas críticas à exposição
dos quadros da pintora futurista Anita
Malfatti, em São Paulo, foi um ponto
de partida para demonstrar suas con-
cepções contrárias à arte de vanguarda
que estava sendo produzida no Brasil,
sob os excessos das infl uências de
pintores e artistas europeus.
O escritor viajou para os Estados
Unidos logo após o sucesso de sua
carreira literária, com a publicação
de Urupês, Cidades mortas e Negrinha.
Lá, viveu por alguns anos e teve uma
decepção após ter sido menosprezado
pelo seu livro O presidente negro e o

choque de raças, em que, polemicamen-
te, narra a história de um candidato
negro à presidência dos EUA. Após a
frustrante experiência na América do
Norte, retorna ao Brasil em 1931 e dá
prosseguimento aqui à sua carreira
literária, até falecer em 4 de julho de
1948, aos 66 anos.



















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