Conhecimento Prático Língua Portuguesa e Literatura - Edição 77 (2019-06)

(Antfer) #1
LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA | 43

Das línguas indígenas, são
seis as reconhecidas como
Referência Cultural Brasileira
pelo Iphan e pelo ex-Minc
(Ministério da Cultura). A Asurini
pertence ao tronco Tupi, da famí-
lia linguística Tupi-Guarani. Seus
habitantes são de Trocará, região
indígena localizada às margens
do Rio Tocantins, em Tucuruí, no
Pará. Desde o século XIX, os ín-
dios que dominavam a região en-
tre os rios Xingu e Bacajá – hoje conhe-
cidos como Araweté, Arara, Parakanã...



  • recebiam o nome Asurini (Asonéri, na
    língua Juruna), que signifi ca “vermelho”,
    segundo o etnógrafo Curt Nimuendajú.
    O missionário Anton Lukesch, que che-
    gou a Trocará no início dos anos 1970,
    diz que a margem direita do Rio Xingu
    sempre foi chamada “Terra dos Asurini”
    pelos habitantes de Altamira e demais
    moradores das margens do referido
    rio, em seu curso médio. Lukesch conta
    que os asurini viram-se acossados por
    grupos inimigos de um lado e “pacifi -
    cados” por uma empresa multinacional
    de outro, por isso não tiveram outra
    alternativa senão aceitar o contato. O
    cronista estrangeiro Condreau também
    cita os asurini como um dos grupos
    que habitavam o Baixo Xingu.


Já os Guarani M’bya são identifi cados
como uma variedade moderna da língua
Guarani. Portanto, pertence à família
Tupi-Guarani, do tronco linguístico
Tupi. Os próprios Mbya, como são mais
conhecidos, afi rmam-se como Ñandeva
euéry, que quer dizer “todos os que
somos nós”. Apesar da dispersão de seu


povo, eles se reconhecem como grupo
diferenciado e, embora ocorram casa-
mentos entre os subgrupos Guarani,
eles mantêm unidade religiosa e linguís-
tica bem determinada, que lhes permite
reconhecer seus iguais mesmo vivendo
em aldeias separadas por grandes dis-
tâncias geográfi cas e envolvidos por
distintas sociedades nacionais.
Nos escritos de Eduardo Galvão, em
Diários do Xingu, o menor dos grupos
integrantes do Alto Xingu, no Parque
Indígena do Xingu, é o Nahukuá.
Ainda praticam um sistema de trocas
comerciais, rituais intersocietários e
o intercasamento. Quando o médico,
explorador, etnólogo e antropólogo ale-
mão Karl von den Steinen esteve nessa
área, em 1884 e 1887, os Nahukuá-
-Kalapalo-Kuikuro, então reconhecidos
como um único povo, eram um dos
grupos mais numerosos e estavam
distribuídos em nove aldeias.
Povo de risada alta, segundo Galvão, os
Matipu estão localizados na porção sul
do Parque Indígena do Xingu. Também
pertencem à rede de trocas e cerimô-
nias intersocietárias que envolve os dez
povos da área cultural do Alto Xingu.
Possui grande identifi cação com os ou-
tros grupos de língua Karib – Kalapalo,
Kuikuro e Nahukuá –, com quem man-
tém relações privilegiadas de intercasa-
mentos e comércio.
Os Kuikuro estão em maior número no
Alto Xingu e fazem parte do que pode
ser chamado de subsistema karíb alto-
-xinguano. Este é constituído, hoje, por
quatro grupos: além dos Kuikuro, os

Matipu, os Nahukuá e os Kalapalo, que
falam variantes dialetais da mesma
língua. Seu território tradicional é a
região oriental da bacia hidrográfi ca dos
formadores do rio Xingu (rios Culuene,
Buriti e Curisevo). A palavra “Kuikuro”
tem uma história. O antropólogo Steinen
ouvia e tentava registrar de um grupo
local que naquela época habitava a
aldeia Kuhikugu um som que não con-
seguia decifrar, uma contração de kuhi
ekugu, “kuhi verdadeiro”, à beira de uma
lagoa com muitos peixes kuhi. A defor-
mação do nome do antigo Kuhikugu
ótomo se cristalizou como sendo o
nome coletivo dos seus descendentes
e o sobrenome individual de cada um
deles: para os brancos, Kuikuro. A au-
todenominação é dada sempre pelo
nome do local ou aldeia ao que se segue
o termo ótomo, “donos ou mestres”.
Assim, os atuais Kuikuro são Ipatse
ótomo ou Ahukugi ótomo ou Lahatuá
ótomo, “os donos de Ipatse, de Ahukugi
ou de Lahatuá”, nomes das três aldeias
hoje existentes.
A última língua indígena tida como
Referência Cultural Brasileira é a
Kalapalo. Os Kalapalo e três outros
grupos do Alto Xingu – Kuikuro,
Matipu e Nahukuá – falam dialetos
de uma língua que pertence ao ramo
da Guiana Meridional da família lin-
guística Karib. Seus parentes linguís-
ticos mais próximos são os Ye’cuana
(ou Makiritare) e os Hixkaryana. Os
primeiros encontram-se no sul da
Venezuela e no norte de Roraima, en-
quanto os últimos estão na região das
Guianas, que fi ca no norte do Pará.

QUEM SÃO ELES


MUITOS POVOS, MUITOS
IDIOMAS, MUITAS CULTURAS
O povoamento das Américas é datado pe-
los arqueólogos e historiadores em um perío-
do compreendido entre aproximadamente 9
mil e 12 mil anos atrás, proveniente da Sibéria
durante a última Era do Gelo em uma suces-
são de levas migratórias, já amplamente com-


provadas por estudos de DNA, como também
pelas pesquisas das similaridades linguísticas
que conectam idiomas falados na América
pré-colombiana e antigos idiomas do leste e
nordeste asiático.
Por falar em “pré-colombiano”, é importan-
tíssimo reforçar a divulgação de documenta-
ções e comprovações sobre os primeiros conta-
Free download pdf