Conhecimento Prático Língua Portuguesa e Literatura - Edição 77 (2019-06)

(Antfer) #1
LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA | 45

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

SOBRE O AUTOR

tos de europeus com o continente americano.
É tida como certa a chegada do explorador is-
landês LEIF ERICKSSON 3 na costa da América do
Norte, tendo estabelecido contato com a popu-
lação nativa, ainda que por um curto espaço de
tempo, assim como Pedro Álvares Cabral não
foi o primeiro ibérico a chegar a terras tupini-
quins e sequer foi o primeiro português! Antes
dele, o navegador lusitano Duarte Pacheco
Pereira por aqui esteve em 1498, e no início de
1500 o espanhol Vicente Yáñez Pinzón pisou
em solo do atual estado de Pernambuco.
É importante citar essa revisão histórica,
sem demérito das narrativas tradicionais, mas
como cenário de ampliação de visões sobre o
povoamento do nosso continente. Mais uma
vez, o reducionismo pedagógico limita o co-
nhecimento e engessa a apropriação de uma
identidade muito mais sólida, densa e rica des-
te universo que é o continente americano.
Voltando ao início do povoamento do con-
tinente, é preciso entender que este não se deu
a partir de uma única onda migratória, mas
sim de diversas migrações, que sobrepuseram
populações, etnias e culturas, além, é claro, de
idiomas e linguagens. Em relação ao ano te-
mático, são importantes esses apontamentos,
considerando-se que todos os idiomas dos po-
vos indígenas são objeto desta iniciativa.
Do Alasca à Patagônia, as culturas, etnias e
povos proliferaram-se abundantemente, tendo
algumas culturas desenvolvido o registro es-
crito e outras não. Na porção sul do continen-
te, excetuando-se os povos andinos, não hou-
ve registro escrito, sendo a transmissão oral
o registro prevalente. Esse fato contribuiu e
ainda contribui para uma certa desvalorização
da história desses povos, visto que a tradição
europeia e asiática valoriza o registro histórico
físico, em detrimento das tradições orais.
Assim, além das dificuldades óbvias de re-
gistro e conservação da memória cultural des-
ses povos, há também um menosprezo pela
cultura indígena dos povos que não desenvol-
veram o registro escrito, considerando-se essas
culturas como inferiores, e seus idiomas como
rudimentares. Entretanto, estudos linguísticos
nos mostram que, apesar de não ter desenvol-
vido o registro escrito, muitos idiomas indí-
genas são tão sofisticados e gramaticalmente


complexos como idiomas europeus ou asiáti-
cos, como morfologia e sintaxe amplamente
desenvolvida e evoluída.

CLASSIFICAÇÃO
DOS IDIOMAS
Os idiomas podem ser agrupados conforme
as semelhanças existentes entre eles, seme-
lhanças essas que revelam uma origem comum,
além de descortinar os processos evolutivos e
de diversificação e miscigenação ocorridos ao
longo do tempo, já que o idioma é vivo e adapta-
-se a novas demandas e influências (Ver quadro
Mapa da Diversidade Linguística Indígena).
Os agrupamentos de idiomas são feitos en-
tão através de ajuntamentos em famílias lin-
guísticas e finalmente em troncos linguísticos.
Famílias linguísticas agrupam os idiomas que
possuem evidentes elementos semelhantes,
denotando separações recentes, ao passo que
troncos linguísticos demonstram as origens
mais primitivas dos idiomas, sendo as seme-
lhanças mais longínquas e percebidas muitas
vezes apenas etimologicamente.
Assim, em relação aos idiomas indígenas,
temos dois grandes troncos linguísticos prin-
cipais, o Tupi e o Macro-Jê, 19 famílias linguís-
ticas que não apresentam semelhanças sufi-
cientes para que sejam agrupadas em troncos
linguísticos, além de outras línguas chamadas
de “idiomas isolados, ou seja, idiomas que não
possuem semelhanças capazes de agrupá-los
em famílias ou mesmo em troncos linguísti-
cos. Confira a lista de idiomas e indivíduos fa-
lantes no quadro ao lado.
Há muito o que falar ainda, como as apli-
cações e estratégias de abordagens práticas
do tema em sala de aula, mas fica para outra
vez. O importante é que tamanha diversidade
linguística e cultural deve ser apresentada aos
alunos do ensino regular, pelo atendimento à
LDB, mas, principalmente, pela necessidade
premente de divulgação e preservação da nos-
sa história. Um Brasil que se desconhece, mas
latente e necessário.

LEIF ERIKSSON LEIVO
(ac. 970 - ac. 1020)
Ou Leifo ou Leivo, filho de Érico, foi um
explorador marítimo islandês popularmente
conhecido como o primeiro europeu a descobrir
a América do Norte e, mais especificamente, a
região que se tornaria o Canadá.

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https://pib.socioambiental.
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http://www.funai.gov.br

MÁRCIO SCARPELLINI VIEIRA
é pedagogo, cientista social,
palestrante e administrador de
Empresas. Diretor-executivo do
Colégio Ouro Preto e professor
universitário.

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