Conhecimento Prático Língua Portuguesa e Literatura - Edição 77 (2019-06)

(Antfer) #1
LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA || 6363

SOBRE O AUTOR
MÁRCIO SCARPELLINI VIEIRA
é pedagogo, cientista social,
palestrante e administrador de
Empresas. Diretor-executivo do
Colégio Ouro Preto e professor
universitário.

Mas quem mal lê, também mal ouve. É ter-
rível verifi car pessoas que não entendem cer-
tas palavras normais do vernáculo. Tudo bem,
vernáculo não é muito utilizado por aí, mas
convenhamos que a quantidade de palavras
utilizadas por indivíduos que têm o português
como língua nativa diminuiu drasticamente.
Não apenas modifi caram-se as opções linguís-
ticas, mas diminuiu sensivelmente a variedade
de termos utilizados. Assim, a comunicação
geral é prejudicada pela redução de opções lin-
guísticas, o que faz com que a profundidade de
um determinado assunto seja comprometida.
A língua é viva, é um fenômeno cultural
em si mesma. Neologismos e arcaísmos fazem
parte da vida do idioma, mas para surgir uma
nova palavra é necessário o conhecimento dos
rudimentos do idioma, e este entendimento
sem dúvida é maior em quem bem lê.
Por fi m, mal vê quem mal lê! Sim, quem
mal lê, mal desenvolve seu poder criativo autô-
nomo. Aliás, a autonomia é uma característica
intrínseca ao leitor. A leitura, seja ela qual for,
promove o pensamento criativo, a formulação
de cenários e universos imaginários completa-
mente inéditos, autorais e únicos de cada leitor.
Se tudo é tão lindo assim, por que é tão di-
fí cil estimular e desenvolver uma competência
leitora hoje em dia?
Existem alguns motivos que acredito con-
tribuírem negativamente para esta constru-
ção. Como podemos ajudar nossos alunos a
desenvolverem esta competência?

COMO?
Um fator já muito debatido nos planeja-
mentos e formatação de materiais didáticos
diz respeito a quais leituras a escola expõe os
alunos. É importante a leitura dos clássicos?
Quais leituras são, de fato, importantes?
A primeira atividade necessária para de-
senvolvermos o gosto pela leitura é despertar a
paixão. Como em tudo, cada pessoa apaixona-
-se por alguém ou algo distinto. Como diria mi-
nha avó, “quem ama o feio, bonito lhe parece”.
Existe um livro apaixonado esperando por um
leitor que ainda o desconhece!
Sim! Existe um livro, um tipo de literatura
esperando alguém que queira se relacionar

com ele e, para se apaixonar, não há
regra. Cada um se apaixona pela
tampa da sua panela! Aqui está a
importância da visita à bibliote-
ca. Aqui está a importância de co-
nhecer individualmente o aluno.
A partir do universo que o alu-
no admira, podemos indicar uma
literatura adequada, mudar a indica-
ção, trocar o autor, até que a simbiose
homem x livro aconteça. Sim, neste pro-
cesso o aluno pode deixar de ler algum livro até
o fi m, afi nal, é melhor que o processo de busca
continue até a conquista do que o desgosto pela
leitura prevaleça.
Penso que este é um dos principais papéis
da escola. Ensinar o encanto, promover a pai-
xão. A princípio, de fato não importa a leitura,
desde que ela aconteça. No processo, devemos
ensinar que um autor é ou era um ser huma-
no, que leu outros autores, e se formos buscar
quais livros aquele autor leu, aprofundaremos
nosso entendimento sobre o que escreveu, e
voilà! Aconteceu!
Daí em diante, o trem já entrou no tri-
lho. A leitura dos clássicos é importante, sim.
Clássicos brasileiros e universais são a base do
pensamento. O pensamento livre é obtido a
partir da leitura dos originais.
Sou um ávido incentivador da leitura de
originais. Em tempos politizados, é comum
um conhecimento de internet, restrito a “me-
mes” engraçados, a falas sintéticas de gurus, a
colunistas contratados.
Os originais são muito maiores que isso tudo.
Quem tem acesso aos originais, tem acesso à
fonte, sem contaminações ou infl uên cias. Torna-
se autônomo, pensa por si e com certeza será
convidado a pensar por outros (infelizmente).
Sabe o que é melhor? Os originais em ge-
ral já estão em domínio público! Normalmente
são os livros mais baratos. Existem edições de
bolso em papel jornal que custam dois cafezi-
nhos expressos!
Entretanto, o começo é pela paixão! Sem
paixão, não há relação, sem relação, não há
reprodução, não há perpetuação do sapiens!
Boas paixões literárias para você e para os
seus alunos!

HOMERO
(SÉCULO IX a.C
OU VIII a.C)
Foi o fundador
da poesia épica,
o maior e mais
antigo dos poetas
gregos a quem se
atribui as obras-
-primas A Ilíada
e AOdisseia, que
são os dois mais
velhos poemas da
literatura grega. A
Ilíada descreve
os acontecimentos
da “Guerra de
Troia”, que teria
ocorrido no século
XIII a.C. e as
aventuras entre os
guerreiros gregos
e troianos. A
Odisseia descreve
a aventura do herói
Ulisses, em sua
volta para a ilha
de Ítaca, após a
Guerra de Troia.

©DOM

ÍNIOPÚBLICO

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