Banco Central do Brasil
Revista Conjuntura Econômica/Nacional - Capa
quinta-feira, 11 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central
injeção de recursos na economia. “Não há nada que
conduza a um aumento rápido da massa salarial.
Quando a pandemia arrefecer, teremos algum estímulo,
mas nada indica que na proporção e velocidade que se
gostaria. A saída da crise ainda será lenta”, diz.
A mais recente revisão feita pela equipe do Boletim
Macro do FGV IBRE indica um PIB de 3,2% em 2021,
abaixo do carregamento estatístico de 3,6%, o que já
implica um recuo na margem. “Além do agravamento do
contágio neste início de ano, verificamos uma
aceleração inflacionária que corrói o poder de compra
da renda das pessoas, que ainda não contam com
contrapartida no mercado de trabalho”, diz Silvia. Livio
Ribeiro, pesquisador associado do FGV IBRE, ressalta
que a evolução da inflação sentida até fevereiro embute
o alto grau de incerteza da economia. Até agora, a parte
da inflação derivada de commodities - que reflete a
recuperação da economia internacional - foi ocasionada
mais pelo aumento do preço em dólar desses produtos
do que pela desvalorização do real. Do aumento médio
de 30% observado entre meados de dezembro e final
de fevereiro, diz Ribeiro, dois terços referem-se à subida
do preço em dólar, e uma terça parte devido à
depreciação do real. “Em condições normais de
temperatura e pressão, no Brasil esse aumento seria
suavizado em função de um choque favorável no
câmbio, por sermos exportadores de commodities. Mas
não é isso que temos observado”, afirma. Ao contrário,
a decomposição da flutuação cambial realizada por
Ribeiro mostra que, no período entre 10 de dezembro e
20 de janeiro, diferencial de juros e fatores externos
atenuaram a depreciação do real, que foi de 5,8% nesse
período, quando a conjuntura doméstica respondeu por
um movimento de 6,6%. “Já na janela entre 20 de
janeiro e 23 de fevereiro, o real desvalorizou 2,4%, dos
quais fatores domésticos representaram 1,9%, ou 75%
da depreciação do período”, descreve.
Esse contexto marcado pela incerteza também afeta as
condições de financiamento do país, lembra Luana.
“Desde as eleições presidenciais dos Estados Unidos,
houve uma melhora no cenário internacional que
reduziu parte da grande aversão ao risco dos
investidores em relação aos emergentes. No Brasil,
entretanto, não conseguimos nos dissociar dos
problemas estruturais”, afirma, destacando que o índice
de Condições Financeiras medido pelo FGV IBRE, que
tem entre as principais variáveis a inclinação da curva
de juros, ainda se mantém em nível contracionista.
“Esse risco é identificado no campo fiscal, no político,
explicando por que não alcançamos um patamar de
estímulo para a atividade econômica”, diz. No Seminário
de Análise Conjuntural (http://bit.ly/3t2KOnU) promovido
dia 8 de março pelo FGV IBRE em parceria com o
Estado de S. Paulo, Armando Castelar, coordenador da
Economia Aplicada do IBRE, ressaltou que a forte
subida dos juros longos nos Estados Unidos tem
provocado uma saída de capital dos países emergentes
em geral, mas que no Brasil tem repercutido com força
na bolsa de valores. “Basta comparar a média de
entrada de dinheiro estrangeiro em novembro,
dezembro e janeiro, de US$ 30 bilhões, e a saída de
US$ 6 bilhões em fevereiro”, comparou. Luana, tal como
o chefe do Centro de Estudos Monetários do FGV IBRE,
José Júlio Senna (ver pág. 54), espera que o processo
de aumento gradual da Selic a partir de março, visando
à meta de inflação em 2022, possa impactar
positivamente a redução da curva de juros.
“Hoje, pensar no resultado do PIB de 2021 é
fundamentalmente pensar em como se gerenciará a
crise tanto do ponto de vista sanitário quanto fiscal”, diz
Silvia. “Precisamos analisar cuidadosamente as
próximas políticas, priorizar a visão técnica e evitar
medidas populistas”, diz. Para Campeio, garantir
alguma recuperação em 2021 depende de se reduzir a
incerteza, “o que demanda ações do governo no sentido
de transformar a aliança com o Legislativo na
concretização dos programas econômicos anunciados,
e evitar medidas tempestivas como o episódio da
destituição do presidente da Petrobras, desfavoráveis à
realização de investimento no país”, diz. E, a segunda,
definir um meio de impulsionamento da economia para
quando a pandemia for controlada. “Parece-me que o
caminho é pelo lado dos investimentos, e contamos com
bons projetos dentro do Ministério da Infraestrutura”, diz.