Newsletter Banco Central (2021-03-13)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Revista Conjuntura Econômica/Nacional - Capa
quinta-feira, 11 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

“Mas para isso é preciso contar com disponibilidade de
capital público e privado, e disposição em honrar
compromissos regulatórios. É preciso que o governo
sinalize que está gastando de forma cautelosa e
criteriosa, no sentido de eleger projetos rentáveis, e com
isso estimular a atração de novos investimentos”, diz.


Borges ressalta que tal tarefa não será simples. “Para
cumprir o teto de gastos, o investimento público deverá
chegar ao menor nível desde 1947, limitando nossa
capacidade de dar um suporte adicional em projetos”,
diz. O pesquisador destaca que o FMI, em publicação
do ano passado, reitera que o investimento é o próximo
foco para a política fiscal. “É uma sequência: enquanto
se sentem os efeitos da pandemia, é preciso priorizar o
suporte a famílias e empresas, para evitar quebradeira e
perda de empregos. E, no segundo momento, o foco
deve se voltar aos elementos que ‘limpem’ a histerese -
persistência dos impactos econômicos após um período
de baixo crescimento -, como o investimento em
infraestrutura, especialmente a direcionada à
descarbonização da economia global, visando a uma
recuperação sustentada”, diz.


E, se ainda cabe alguns alertas adicionais, não custa
voltar à análise de Harari e resgatar as três lições que,
defende o historiador, devem ser absorvidas por todos
os países à luz desta pandemia: resguardar a
infraestrutura digital, que foi a grande sustentadora das
atividades econômicas e sociais neste período; valorizar
o sistema público de saúde; e defender a integração
entre países, criando um monitor global para prever
pandemias. Para Harari, e como os aspectos positivos
do combate à Covid-19 podem provar, novas mortes
pela Covid-19 ou por uma nova pandemia que venha
adiante não cabem ser justificadas por calamidade ou
desígnio divino. Evitá-las depende, além da ciência, de
boas escolhas políticas.


BC na pandemia
Ainda que em 2020 os instrumentos de natureza fiscal
tenham se sobressaído na mitigação do impacto das


medidas de isolamento para conter o contágio pelo novo
coronavírus, a ação dos bancos centrais também se
mostrou essencial nesse período, ajudando a amenizar
os custos econômicos acarretados pela crise sanitária.

José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos
Monetários do FGVIBRE, assinala que “o choque duplo
que tivemos, de oferta e de demanda, foi uma
experiência inédita, e nada tinha de elementar”. Como
em outros países, o Banco Central brasileiro foi além
da clássica redução da taxa básica de juros, tratando
de destravar mercados que ficaram congelados diante
do choque, melhorar as condições de liquidez e de
crédito, e adotar medidas no campo regulatório, de
modo a tornar mais fácil a vida das instituições
financeiras. “A Covid-19 abriu um buraco enorme entre
as receitas e os compromissos financeiros de famílias,
empresas e governos. Em toda parte, facilitar o fluxo de
crédito era simplesmente indispensável. E o BC fez isso
com competência”, afirma.

Senna aponta que a experiência adquirida na crise
financeira de 2007/08 foi de grande utilidade em 2020.
De modo geral, os BCs já sabiam o que tinha dado
certo, e adotaram praticamente o mesmo receituário,
como medidas de desregulamentação voltadas à
ampliação da desalavancagem dos bancos, e
disposição para adquirir ativos ou conceder crédito
lastrado em papéis cujos mercados se viram
congelados, caso das debêntures no Brasil. “Não houve
propriamente coordenação entre os BCs”, diz Senna.
“Tudo aconteceu como se a crise anterior tivesse
ensinado o caminho das pedras. Os bancos centrais
chegaram mais ou menos aos mesmos consensos, e
agiram rapidamente.”

Com a fase aguda inicial da crise sob controle, as ações
de política econômica passaram a privilegiar o campo
fiscal, no qual a resposta brasileira em 2020 foi acima
do que a capacidade do país sugeriria, diz Senna. O
grande drama do Brasil tem a ver com o fato de que, no
decorrer das últimas décadas, abusamos da expansão
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