Banco Central do Brasil
Revista Exame/Nacional - Carreira
quinta-feira, 11 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Davos
de seleção de pessoas.
No meio da pandemia, o time dela passou a monitorar
as habilidades desejadas pelas empresas com
operação em São Paulo e, na ponta da formação,
oferecer cursos online com base nas demandas em alta,
como cursos de games. Mais de 200.000 adultos
passaram pelo reskilling no ano passado. Boa parte já
saiu empregada. “A síntese é saber onde está a
demanda, contar com as empresas para isso, e
trabalhar com a população para saber o que ela quer
fazer”, diz.
A iniciativa brasileira segue os passos de países
desenvolvidos em que governos vão no detalhe na hora
de ajudar os cidadãos a entender de que o mercado de
trabalho está precisando. Em Singapura, uma iniciativa
chamada SkillsFuture é uma espécie de “rede social” do
reskilling. Numa mesma página virtual, candidatos
colocam informações básicas, como identidade e
formação, e podem checar as vagas abertas em suas
áreas de interesse — ou aprender ofícios de quem está
contratando. O sistema atendeu mais de 500.000
pessoas em 2020.
Embora esteja na ordem do dia na agenda de gestores
privados e públicos, o reskilling traz incertezas. Como
saber de antemão o tipo de qualificação a ser
demandado nas empresas daqui a cinco ou dez anos?
Como abrir os olhos de funcionários pouco dispostos a
abraçar novidades? A trajetória da consultoria global
Accenture traz algumas pistas. A companhia é uma das
maiores defensoras do reskilling — a empresa gasta 1
bilhão de dólares por ano para treinar 500.000
funcionários em mais de 100 países.
Por ali, a regra é: o funcionário precisa ficar esperto
para o momento em que suas qualificações já não têm
mais a mesma serventia de antes e, no momento
seguinte, tomar iniciativa. “Qualquer profissional precisa
entender que seu trabalho mudou ou vai mudar, e que
ele é o principal agente para fazer a disrupção do
próprio trabalho”, diz Beatriz Sairafi, diretora de RH da
Accenture.
Para além disso, a empresa toda está passando por
uma atualização sobre as próximas habilidades
tecnológicas, como blockchain ou segurança digital,
para que todos “falem a mesma língua”. “Isso serve
para antever quem já está preparado para as demandas
futuras dos clientes.
A depender do resultado, e do cargo de quem fez a
prova, um sistema de inteligência artificial monta uma
trilha de cursos a ser feitos. Quem leva a sério sobe na
carreira.” Na Accenture há 16 anos, a psicóloga Luciana
Lutaif acumulou milhares de horas em cursos de gestão
nos últimos oito anos. No período, ela saiu de um cargo
de gerência para o de diretora de talentos na empresa.
“Fiz toda a carreira de analista, consultora e gerente,
mas a passagem para um cargo mais sênior demorou
até eu resolver estudar”, diz Lutaif.
“Os cursos me ensinaram habilidades de diretoria e,
quando veio a promoção, foi um passo natural.” Em
algumas empresas, jogos têm sido usados para engajar
os funcionários. Na fabricante de cosméticos O
Boticário, um jogo chamado Connect ensina conteúdos
úteis à empresa numa realidade virtual em que os
funcionários devem avançar de fase, como um game.
A empresa investiu mais de 1 milhão de reais, entre
gastos com o desenvolvimento na solução e prêmios
pagos aos funcionários mais bem colocados nos jogos.
Segundo a empresa, os jogos chamaram a atenção. O
comparecimento aos treinamentos está em 60%, acima
do usual antes da ferramenta. Aqui e ali, negócios
apostam no reskilling para prosperar num mundo incerto
com a automação e a pandemia. Resta saber se a conta
desses ganhos vai de fato chegar — e quando.