Banco Central do Brasil
Revista Época/Nacional - Capa
sexta-feira, 12 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes
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Autor: Henrique Gomes Batista
Plataformas no mar, bombas de gasolina e carros,
carros, carros. É difícil dissociar a palavra “petróleo” de
alguma dessas imagens. Mas, quando começou a ser
explorada modernamente nos Estados Unidos, na
segunda metade do século XIX, a matéria-prima que
criaria a “sociedade do hidrocarboneto” — na expressão
empregada pelo americano Daniel Yergin, autor do
clássico O petróleo: uma história mundial de conquistas,
poder e dinheiro (publicado originalmente em 1991) —
era apenas “a panaceia da Pensilvânia”. Explica-se:
antes de se tornar a matriz energética que redesenhou
a economia mundial, o petróleo foi usado para aliviar
dores de cabeça e de dente e até ferimentos de
animais. Não é de hoje, no entanto, que o “ouro negro”,
o “maior e mais difundido negócio” do século XX, deixou
de ser uma espécie de remédio para todos os males
econômicos da civilização que ele, por assim dizer, fez
andar. Em tempos de mantras como “baixo carbono”,
“energia limpa” e “combustível renovável”, o próprio
petróleo se transformou em dor de cabeça para as
companhias que mergulharam fundo em seus poços —
às vezes, até no nome. Como a Petrobras, por exemplo.
Perto de completar 70 anos — foi fundada em 3 de
outubro de 1953, no governo de Getulio Vargas (1882-
1954) —, a estatal viveu dias de maremoto no mês
passado. Atropelando desde o estatuto da companhia
até o ministro da Economia, Paulo Guedes, o
presidente Jair Bolsonaro anunciou, em suas redes
sociais, que o general Joaquim Silva e Luna, diretor da
Itaipu Binacional, substituiria Roberto Castello Branco
no comando da Petrobras. Deram nos nervos do ex-
capitão os novos aumentos no preço dos combustíveis
tendo como parâmetro o valor praticado no mercado
internacional. Na segunda-feira 22 de fevereiro, as
ações da companhia sofreram uma queda de 20%,
diante do temor dos investidores de uma ingerência
política nas diretrizes da empresa.
A tormenta não poderia ter ocorrido em pior momento.
Em todo o planeta, o setor petrolífero passa por
transformações comparáveis às experimentadas pela
indústria do carvão. Na prática, mundo afora as
petroleiras se defrontam com o desafio de rever suas
estratégias: vão continuar atuando nas áreas de óleo e
gás ou se tornarão empresas de energia?
Na opinião de especialistas ouvidos por ÉPOCA, a
Petrobras tem derrapado nessa frente — em um dilema
que não é exclusividade sua. “Quem cuida desse
assunto precisa de liberdade e de confiança.
Interferências (políticas) assustam as pessoas da
própria empresa, sobretudo quando se trata de questão
ambiental em um governo que não é tão ESG friendly”,
ponderou Heiko Spitzeck, gerente do Núcleo de
Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral (FDC),
referindo-se à sigla, em inglês, para meio ambiente,
social e governança.
De fato, como se sabe, não há nada de “amigável” no
trato do governo Bolsonaro com questões ambientais. A
própria gestão de Castello Branco já comportava críticas
de ambientalistas, e mesmo de ex-integrantes dos
quadros da Petrobras, por sua ênfase em combustíveis
fósseis. A venda da totalidade da participação da
Petrobras Biocombustível em usinas de biodiesel estava
afinada com essa diretriz. A escolha do general Silva e
Luna para o cargo máximo da estatal tem tudo para