L.R. - O EFEITO SUPREMO
Banco Central do Brasil
Revista Época/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 12 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
Clique aqui para abrir a imagem
Clique aqui para abrir a imagem
Autor: Larry Rohter
Ao anular as duas condenações de Luiz Inácio Lula da
Silva, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal
Federal (STF), fez tremer num só golpe dois pilares da
democracia brasileira: os sistemas político e judiciário.
Afirmou que estava apenas cumprindo com as
exigências da lei, mas até criança sabe que a lei e a
justiça são coisas bem distintas. E neste caso ele
ofereceu uma interpretação da lei muito questionável,
que já semeou o caos no campo eleitoral e partidário e
diminui as chances de a justiça ser feita.
Primeiro, o político: o Brasil agora terá de conviver,
atemorizado, com a probabilidade do maior pesadelo
imaginável na eleição de 2022: um confronto direto
entre Jair Bolsonaro e Lula. Seria uma escolha pouco
apetitosa. Foi o cantor Lobão que disse que “Lula era
um ladrão e Bolsonaro é um facínora”, mas imagino que
muitos brasileiros pensam da mesma maneira. Fico
aliviado em ter apenas o direito de opinar, e não o de
votar.
Foi estranhamente mansa a reação inicial do atual
presidente, que me levou a crer que ou ele está
dissimulando, ou vive no mundo da lua. “Acredito que o
povo brasileiro não queira sequer ter um candidato
como esse em 2022”, disse, porque “as bandalheiras
que esse governo fez estão claras perante toda a
sociedade”. Bolsonaro tem razão na segunda afirmação.
Mas também está clara a incompetência de alguém
responsável pela morte de 270 mil brasileiros e que
sugere o charlatanismo como solução. Entre a
corrupção e a ameaça mortal, entre roubar seu dinheiro
ou roubar sua vida, qual o mais desastroso? Mas, sim,
ter Lula novamente no Planalto seria um retrocesso
terrível para o Brasil. Bolsonaro foi eleito para fazer a
devassa exigida pela sociedade, que ele ainda não fez e
nunca vai fazer. A pústula da corrupção continua
afligindo o corpo político, ou até ganhando força, e um
retorno de Lula significaria um indulto completo, o
esquecimento de toda a roubalheira dos anos em que o
PT esteve no poder. Seria também a garantia de futuras
manobras ardilosas, ainda mais sofisticadas, para não
ser pego de novo.
Por isso, achei a declaração de Arthur Lira, presidente
da Câmara, tão reveladora. “Lula pode até merecer”
uma absolvição, avaliou. “Moro não.” Por quê? Porque
Moro incomoda os beneficiários do famigerado
“mecanismo” dos partidos do centrão, PT e MDB,