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Revista Época/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 12 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
retratado pelo diretor de cinema José Padilha. Moro
errou feio ao aceitar o Ministério da Justiça e foi longe
demais em seu zelo de desinfetar o poder. Mas a
suspeição dele, no exato momento em que parece que
Lula vai sair ileso, é um ato cínico que corrói a imagem
de imparcialidade do Judiciário que o STF pretende
defender.
Devemos lembrar que Lula não foi exonerado. Pode ser
que ele tenha sido julgado no foro inadequado, mas os
fatos de Atibaia e do Guarujá não mudaram e continuam
gritantes. É preciso repetir isso diariamente, até a
exaustão, porque Lula vai adotar a técnica da grande
mentira aperfeiçoada por Donald Trump e alegar que
tem a ficha totalmente limpa. Também é previsível que
vai bancar a vítima, alvo de uma caça às bruxas e um
complô político.
A volta de Lula também seria ruim para os interesses de
longo prazo do próprio PT.
Desde sua fundação em 1980, o partido está atrelado à
figura de seu fundador mais célebre. Mas Lula
completará 77 anos em outubro de 2022, e sua eterna
hegemonia pessoal impede o surgimento não apenas
de novas lideranças, mas, pior ainda, de novas ideias.
Neste sentido, sua ausência em 2018 teria sido uma
oportunidade disfarçada para o PT, se Lula não tivesse
insistido em se inserir na campanha como “mártir” e
bandeira eleitoral.
Olhando a lista de líderes da campanha pela
redemocratização há 40 anos, vê-se que quase todos
eles já faleceram (Ulysses Guimarães, Franco Montoro,
Tancredo Neves, Leonel Brizola, Mário Covas) ou
tiveram a dignidade de deixar o palco e se conformar
com o papel de auxiliar, como Fernando Henrique
Cardoso, Eduardo Suplicy e Roberto Freire. Apenas
Lula se obstina em não sair do cenário. Mas é um
homem dos anos 1980, com ideias daquela época. Se o
PT quer sobreviver ao inevitável desaparecimento de
Lula, precisa começar o processo de transformação o
quanto antes. Só que ele não permite.
Quem sabe, talvez o plenário do STF consiga desarmar
a bomba ativada por Fachin. Mas a decisão
“monocrática” dele já danificou o Judiciário como
instituição. Bolsonaro apontou as afinidades ideológicas
de Fachin para desqualificá-lo como “juiz petista”. Ao
mesmo tempo, surgiram novas dúvidas sobre os
julgamentos nos casos anulados e o destino de outros
processos contra Lula. Todos serão deliberados em
Brasília, onde a hostilidade contra a Lava Jato é notória.
Como diriam Mônica e Cebolinha: Xiii!
Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas