Banco Central do Brasil
Revista Isto É Dinheiro/Nacional - Especial
sexta-feira, 12 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central
polarizada e imprevisível. A incerteza soma-se à
recessão e ao descontrole da pandemia. A economia
suporta mais esse tranco?
Não tenham medo de mim.” A declaração do ex-
presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante um longa
entrevista coletiva na quarta-feira (10) fez lembrar
claramente a eleição presidencial de 2002. Naquele
momento, havia muita coisa em jogo na decisão do
pleito. Oito anos antes, em 1994, o Plano Real havia
conseguido conter a inflação após várias tentativas
frustradas. A estabilidade colocou dinheiro no bolso dos
mais pobres, que sufragaram maciçamente Fernando
Henrique Cardoso. Porém, em 2002, preços estáveis
não bastavam. O povo queria emprego e renda. E foi
com base nessa promessa e ajudado por uma
improvável coalizão com o Centrão que Lula disparou
nas pesquisas e despontou como o virtual presidente
ainda em setembro daquele ano. O mercado financeiro
entrou em pânico. Os chamados “risco-Lula” e “efeito-
PT” fizeram o dólar disparar de R$ 2,60 para R$ 4,00
(ou R$ 11,60 corrigido pela inflação), o risco-país atingir
o maior índice da história (2.436 pontos) e a bolsa a
acumular perdas de 45,5% no ano. A tensão só se
dissipou com a Carta ao Povo Brasileiro, em que o
candidato se comprometia a manter a estabilidade fiscal
e o respeito aos contratos.
O novo discurso com pegada Lulinha Paz & Amor se
inspirou na decisão do ministro Edson Fachin, relator da
Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Com
quatro anos de atraso, Fachin atendeu pleitos da defesa
de Lula. Declarou a incompetência da 13ª Vara Federal
de Curitiba para julgar quatro ações relativas ao ex-
presidente, considerando que os mesmos não têm
relação direta com a Petrobras, alvo da Lava Jato.
Isso anula todas as decisões de Sergio Moro nos
processos, devolve a Lula seus direitos políticos e lhe
permitirá disputar eleições. Na prática, se o Judiciário
não mudar de ideia de novo, o principal nome do Partido
dos Trabalhadores está elegível novamente. Isso torna
ainda mais indefinido o cenário para 2022, ano de
eleições presidenciais. Não bastassem a recessão e a
pandemia, a economia e a sociedade brasileiras
poderão ter pela frente uma eleição polarizada e
imprevisível.
A decisão de Fachin teve o condão de colocar a
campanha eleitoral em marcha. O “não tenham medo de
mim” do primeiro discurso público de Lula teve tom de
campanha eleitoral.
- Por que o mercado tem medo de mim? Esse mercado
já conviveu com o PT oito anos comigo e mais seis com
a Dilma. Qual é a lógica? Eu não entendo esse medo.
Eu era chamado de conciliador quando presidia.
Quantas reuniões fazia com os empresários? Dizia: ‘O
que vocês querem? Então, vamos construir juntos’.
A liberação do ex-presidente encheu de otimismo os
eleitores petistas e espalhou pânico no mercado. O
dólar subiu 2,08% na segunda-feira (8) para R$ 5,80. O
Ibovespa chegou a cair 3,98% durante o pregão,
fechando a sessão com 110.611 pontos.
A liberação de Lula não foi a única causa para isso. Ao
longo da semana passada, Jair Bolsonaro investiu
contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
desenhada pelo Ministério da Economia para tentar
conter o crescimento dos gastos públicos. Bolsonaro
conversou com interlocutores na Câmara sobre retirar
da proposta a obrigação do governo de rever benefícios
tributários e ainda deixar os policiais, um dos pilares de
sua base, fora do sistema de gatilhos que impede
contratações e aumentos de salário. O presidente da
República torpedeia o já combalido barco pilotado por
Paulo Guedes, que tenta manter as contas públicas à
tona.
Para Márcio Coimbra, coordenador do MBA em
Relações Institucionais e Governamentais do