Banco Central do Brasil
Revista Isto É Dinheiro/Nacional - Artigo
sexta-feira, 12 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
Poderíamos buscar uma leitura otimista. Entre o terceiro
trimestre e o quarto a curva inclina para baixo em 0,7
ponto porcentual. Mas nem isso ajuda. Virou
sazonalidade, já que se repete no mesmo período do
ano desde 2017. Assim que a taxa de desocupação
venceu a barreira dos dois dígitos, no começo de 2016,
ela não retrocedeu mais. E num país inercial, o que
pode ficar pior vai ficar pior. Os dados do período
outubro-dezembro de 2020 comparados aos de outubro-
dezembro de 2019 mostram que nos estados e Distrito
Federal houve aumento da busca por trabalho em 19
dos 27, em todas as regiões.
O desastre dos números do IBGE — cuja curva
tenebrosa começa no segundo mandato de Dilma
Rousseff — faz estragos ainda mais devastadores.
Entre mulheres e negros. No corte por cor, o
desemprego entre brancos é de 11,5%, abaixo da
média geral. Entre a população negra sobe para 17,2%.
Uma diferença de quase 50%. No meio estão os pardos,
cujo índice de desocupação é de 15,8%. No quesito
gênero, igual. Nenhuma boa novidade. Mulheres sofrem
mais que homens. O desemprego entre eles é de
11,9%. Entre elas, alcança 16,4% — um gap de 37,8%.
Diante do quadro, como age o tal mercado? Não age.
Parece ter há muito tempo precificado a cena. Esse
dragão que tem medo de molusco, mas não tem de
ogro, precisa de autoanálise. Tema para outro
momento. Mas a respeito disso, uma frase parece taylor
made. “Os economistas são estranhamente lerdos para
reconhecer o fenômeno das classes sociais.” Por favor,
não me ataquem. Quem disse isso foi o brilhante
economista Joseph Schumpeter, em Capitalismo,
Socialismo e Democracia. E tudo bem. Até porque ele
também deu uma zoadinha em jornalistas, a quem
chamou com elegância de eternamente ingênuos, de
certa maneira.
A tragédia antes anunciada está agora constatada.
Paulo & Jair nem devem bater os olhos na planilha. Não
é a agenda deles. Ao primeiro, que realizou o sonho de
ser ministro, desejo que nutria sob qualquer governo
desde FHC, parece bastar a cadeira. Ao segundo, só
existe a obsessão pelo bis, a partir de 2023. O fato é
que os jovens — e as mulheres e os negros — estão
largados na mão do mundo real. Como se isso não
fosse um problema econômico. Dos mais graves.
Pensando bem, não é um problema. É uma matança.
Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas