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Revista Carta Capital/Nacional - Editorial
quinta-feira, 11 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
vez Bertoni e companhia, passou a viver fora do
Vaticano, em santa modéstia, na Igreja de Santa Maria,
e tornou-se o grande reformador do Catolicismo, atento
às mudanças pelas quais o mundo passou desde o pós-
Guerra. Francisco tem a dimensão de um grande
estadista dedicado aos problemas mundiais, amparado,
inclusive, em encíclicas que dão a medida do seu papel,
a começar pela Todos Irmãos. Este texto de amor e paz
inspirou, inclusive, a viagem ao Oriente Médio, que ele
acaba de cumprir.
A bordo do avião que o levava de volta para Roma,
cercado de jornalistas, Francisco aprofundou as razões
e os êxitos desta viagem histórica, a lembrar o encontro
espiritual com o aiatolá Ali Al-Sistani, “sábio homem de
Deus”, e seu sofrimento diante dos escombros das
igrejas destruídas em Mossul, centro do Califado do
ISIS. Foi uma ocasião para lembrar uma frase de Al-
Sistani. “Procuro repeti-la com precisão: ‘Os homens
são irmãos por religião e iguais por criação’.” “Vocês
sabem" – acrescentou o papa – "que não faltam aqueles
que me consideram um inconsciente a dar passos
contra a doutrina católica, próximos da heresia. Saibam
que estas decisões tomam-se em meio às orações, não
são um capricho. Seguem a linha do Concílio Vaticano
II.” Ao cabo da viagem, Francisco sentiu-se como se
estivesse saindo da cadeia. “Em Mossul, parei diante da
igreja destruída, não tinha palavras. Não dá para
acreditar aonde a crueldade humana pode chegar. Uma
pergunta assomou a minha mente: ‘Quem vende as
armas a estes destruidores? Quem é o responsável?’.”
Foi assim que Francisco visitou a terra de Abraão,
aquele que sacrificaria o próprio filho se Deus assim
mandasse. Mas a verdade é que as relações entre a
Igreja Católica e os sunitas tomaram o caminho oposto
e oferecem uma saída aos muçulmanos desejosos de
se afastar da sombra da Jihad terrorista. Mas, durante a
viagem, o papa deu o primeiro passo na direção dos
xiitas ao visitar a sua cidade santa, Najaf, onde vive Al-
Sistani. Em Najaf domina um enorme pôster a falar da
visita papal, e ali se lê: “Vocês são parte de nós, e nós
parte de vocês”.
Completa-se, assim, o contato papal com as diversas
tradições muçulmanas. Não há como negar que muitos
problemas continuam em aberto. Certo é, porém, que
há alguns anos deu-se uma mudança decisiva nas
relações entre o Islã e o Ocidente. Afirma Francisco
com um largo sorriso: “Depois de meses de prisão, no
Iraque me pareceu reviver”.
Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas