Banco Central do Brasil
Revista RI/Rio de Janeiro - Opinião
quarta-feira, 10 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
uma interação maior. Entre os investidores, há um certo
consenso de que os modelos híbridos deverão ser a
opção mais adequada, abrindo a possibilidade para
também haver encontros presenciais se as condições
sanitárias permitirem. Isso se mostrou necessário
sobretudo em empresas com bases acionárias mais
dispersas ou que já foram alvo de discussões mais
acirradas sobre temas na pauta. Vale lembrar o caso da
Petrobras em 2020, onde a reunião se estendeu até a
madrugada.
Empresas pós IPOs
A temporada 2021 será o momento em que as novas
entrantes na bolsa terão suas estruturas de governança
testadas pela primeira vez. Estimuladas pela
oportunidade e urgência da captação de recursos,
muitas dessas companhias não se prepararam
adequadamente para a abertura de capital e chegam ao
mercado ainda com cultura familiar. O relacionamento
dos investidores com essas empresas será fundamental
para que haja aprendizado rápido.
Governança em empresas Estatais
A alta concentração de propriedade das empresas de
capital aberto no Brasil, marcada pela presença ainda
relevante de acionistas do setor público e de controle
familiar, é recorrentemente apontada pela literatura
como vetor de ineficiências no mercado de capitais local
e pode desencorajar acionistas minoritários a adotarem
uma postura mais ativa nessas reuniões. Em episódios
recentes com o Banco do Brasil e Petrobrás, tivemos
uma indicação de que o governo, na condição de
acionista controlador, ainda demonstra certa dificuldade
para entender que empresas listadas prestam contas
também para outros investidores, e que, portanto, não
podem se submeter a decisões monocráticas sem a
devida discussão em seus fóruns de governança.
Diversidade de Gênero nos Conselhos
Uma pesquisa do capítulo brasileiro do 30% Club,
movimento que visa ampliar o equilíbrio de gênero no
comando das empresas, mostra que mulheres
ocupavam apenas 11,2 por cento dos vagas nos
conselhos das empresas que realizaram IPOs até
setembro último. O conselho de apenas uma empresa
era presidido por uma mulher e oito das estreantes não
tinham sequer uma mulher no board. A situação é mais
preocupante ao se pensar que, no IBRX 100, índice que
compila as 100 maiores empresas da bolsa brasileira, a
proporção de mulheres no board é ainda menor:
somente 10 por cento. Nesse contexto, as próprias
agências de proxy voting já estabeleçam a
recomendação de rejeição de chapas de conselho
exclusivamente masculinas. Em 2021 esse deve ser um
dos principais temas em debate.
Sofisticação das áreas de RI
O ambiente de juros de longo prazo estruturalmente
baixos nos últimos anos gerou profundas mudanças no
mercado de capitais brasileiro e, entre elas, o aumento
do número de investidores pessoa física na base
acionária das empresas listadas. Com isso novas
demandas por parte dos acionistas, que precisam
utilizar os canais institucionais para instigar as
empresas a promover mudanças. Por sua vez, os
departamentos de Relação com Investidores das
empresas precisam estar prontos a fornecer as
respostas apropriadas para cada caso. Esta relação
ainda precisa amadurecer no mercado brasileiro e
acreditamos que as AGOs de 2021 devem marcar uma
etapa importante no processo.
Responsabilidade socioambiental e de governança
seguem no holofote
Temas que estão repercutindo no exterior também
devem estar no radar dos investidores institucionais
brasileiros. Entre eles, o aumento de práticas
envolvendo princípios de responsabilidade
socioambiental e governança deverão ganhar ainda
mais visibilidade nas AGOs. De maneira geral, os
investidores brasileiros ainda estão aprendendo a
incorporar esses temas em seus processos de
investimento e práticas de engajamento, com raras
exceções de assets com efetiva experiência. Isso
significa que há um enorme espaço para neste ano