Banco Central do Brasil
Revista RI/Rio de Janeiro - Espaço APIMEC
quarta-feira, 10 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - IPCA
empresas, restantes após a aplicação dos filtros
explicados anteriormente. Os retornos exigidos de cada
uma das ações podem ser vistos na última coluna, em
ordem decrescente, e a média resultante é igual a
11,43% ao ano. Note-se, em especial, que nenhum dos
retornos exigidos é negativo. Com a subtração do yield
to maturity de U.S. Treasury Notes de 10 anos, no valor
de 1,08% em fins de janeiro de 2021, obtém-se o
prêmio divulgado de 10,35% ao ano.
Uma simples análise visual do gráfico anteriormente
apresentado chama a atenção para alguns pontos de
alta da série: outubro de 1998 (crise da Rússia e
contágio no Brasil, com a subsequente mudança de
nossa política cambial), setembro de 2001 (atentados
terroristas nos Estados Unidos), fevereiro de 2002 a
setembro de 2003 (campanha presidencial que levou à
eleição de Lula), e outubro de 2008 (quebra do Lehman
Brothers e ápice da crise financeira global).
Tais momentos correspondem a períodos de crise
nacional e/ou internacional, que provocaram quedas
substanciais de cotações no mercado brasileiro de
ações. E, de acordo com a nossa metodologia, isso
equivale a aumentos do prêmio por risco. Afinal, se
temos um aumento do nível de risco, o prêmio por risco
sobe, e ele faz parte da taxa à qual são descontados os
dividendos e lucros futuros esperados das ações,
levando à queda de suas cotações. Como devia ser.
Análise dos Fatores Determinantes do Prêmio Implícito
No Mercado Brasileiro
Num esforço de validação dos dados gerados pelo
enfoque do prêmio implícito, realizamos análise de
regressão para verificar que relação os prêmios assim
calculados teriam com indicadores básicos do mercado
de ativos com risco no Brasil.
O artigo considera nove indicadores facilmente
observáveis, e conclui que quatro deles têm relação
estatisticamente significante com a série de prêmios
implícitos: (a) variações da taxa de juros de depósitos
interfinanceiros (DI); (b) variações do prêmio por risco
país (Brazil risk), (c) prêmio por liquidez (medido pela
diferença entre taxas de juros de longo prazo e curto
prazo de títulos públicos norte-americanos), (d)
variações mensais do índice S&P500.
No caso dos três primeiros indicadores, o coeficiente
obtido é positivo, representando o fato de que, quando o
nível de risco aumenta, seus valores sobem, o que leva
a uma elevação do prêmio por risco do mercado. No
caso do quarto indicador (S&P500), o coeficiente é
negativo: quando os preços de ações caem nos Estados
Unidos, eles caem também no mercado brasileiro, o que
corresponde a um aumento do prêmio por risco no
mercado local. O valor do coeficiente de determinação
ajustado por graus de liberdade (R2) dessa regressão é
igual a 22,43%.
Em procedimento adicional de validação, construímos a
série de prêmios históricos para o mesmo período
analisado, e estimamos a mesma equação de
regressão, com a qual o R2 ajustado foi de apenas
1,33%, não tendo obtido nenhuma relação significante
com os mesmos indicadores de mercado considerados.
Resumo e Conclusões
Como foi destacado no texto deste artigo, o enfoque
aqui proposto para a estimação do prêmio por risco de
mercado apresenta algumas vantagens importantes: (a)
é compatível com a lógica da análise financeira, no
sentido de que não viola a hipótese de mercado
eficiente na forma fraca, (b) acompanha os aumentos de
níveis de risco com prêmios correspondentemente mais
altos, (c) considera o que está ocorrendo no mercado no
momento relevante, e utiliza informações contidas nos
preços praticados, e em especial, (d) é um enfoque de
aplicação fácil, em vista da ampla disponibilidade dos
dados exigidos, e (e) já embute o risco Brasil na taxa,
não se precisando fazer mais ajustes, exceto o de
considerar os fluxos de caixa em dólares norte-
americanos.