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sexta-feira, 12 de março de 2021
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Autor: Edoardo Ghirotto, com Tatiana Farah e Thiago
Bronzatto
Livre para concorrer em 2022, Lula ressurge em figurino
mais moderado e investe contra Bolsonaro — a
tendência é que ambos procurem apoios ao centro
Um ano e sete meses separam o Brasil da eleição
presidencial. Mas, para quem almeja concorrer ao
Palácio do Planalto, 2021 virou 2022. A reinserção do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cenário
eleitoral limpou o tabuleiro no qual partidos e lideranças
políticas jogavam até então uma modorrenta partida de
xadrez. Mesmo distante da data do pleito, as peças que
serão recolocadas em disputa agora terão de fazer
movimentos definitivos. Coube a Lula a primeira ação.
Com os direitos políticos restabelecidos após o ministro
Edson Fachin, do STF, ter anulado as condenações do
petista na Lava-Jato, o ex-presidente convocou
jornalistas e correligionários para o ato de maior
importância desde o dia em que saiu da prisão. Na
quarta 10, Lula falou por aproximadamente duas horas
e pouco se referiu aos seus algozes. Embora duras, as
menções a Sergio Moro, classificado como o “maior
mentiroso da história”, não somaram mais de um
minuto. Já o ex-coordenador da força-tarefa da Lava-
Jato Deltan Dallagnol só foi citado uma vez
nominalmente. “A Lava-Jato desapareceu da minha
vida”, jurou o petista. Foi uma completa repaginação, se
comparada ao discurso que fez em novembro de 2019,
no ABC Paulista, ao deixar a cela onde cumpria pena.
Na ocasião, uma versão mais incendiária do ex-
presidente disparou ataques contra tudo que ele
considerava estar no campo oposto, como o Judiciário,
a imprensa e as elites do país. Desta vez, até o cenário
montado no 3º andar do prédio do Sindicato dos
Metalúrgicos, o berço político de Lula em São Bernardo
do Campo, apontava para a mudança de foco do
petista. Lá, ele discursou diante de um painel com
slogans defendendo a vacinação de toda a população e
o pagamento de um auxílio emergencial durante a
pandemia.
Nesse ato que marcou a inesperada ressurreição
política, obtida graças à desastrosa ação de Fachin,
sobrou o antigo hábito de Lula de ignorar solenemente
os inesquecíveis casos de corrupção dos governos
petistas, suas responsabilidades e os benefícios
amealhados por ele nesses esquemas (vale lembrar
que a sentença de Fachin não anulou nenhuma das
provas que ainda pesam contra o ex-presidente). O
velho novo Lula também não deixou de fazer críticas ao
trabalho dos meios de comunicação ou ao
empresariado, mas a disposição para fazer concessões
políticas mudou — ao menos no discurso. A fala do ex-
presidente deveria ter ocorrido no dia seguinte ao da
decisão de Fachin, mas a defesa de Lula pediu a ele
que adiasse o pronunciamento em decorrência do
julgamento marcado para a Segunda Turma do STF
sobre a suspeição de Moro nos processos contra o
petista. Como o ministro Nunes Marques pediu vista,
Lula se sentiu confortável para discursar sem mexer
com os humores da Suprema Corte. Mesmo com o
discurso mirando 2022, o recado para os companheiros
foi para ninguém já tratar Lula como um postulante à
Presidência. Pelo menos publicamente, a ideia da
candidatura fica em segundo plano para facilitar a
aproximação com partidos não alinhados à esquerda.
Lula sinalizou que não terá problemas em conversar
com lideranças como o ex-presidente da Câmara dos
Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ), que elogiou a fala
do petista no Twitter. Também tentará buscar velhos